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Por Thomas

Você conhece a espinha dorsal do Atlântico?

Coluna Papo Verde com Dani Fumachi

Por Thomas

A Terra nunca foi um planeta quieto. Sob a aparente estabilidade dos continentes, pulsa um mundo profundo, quente e inquieto, empurrando e puxando a superfície com uma força que não vemos, mas que define tudo o que chamamos de geografia. No coração desse movimento está a Dorsal Mesoatlântica, uma cadeia montanhosa submarina tão extensa que, se estivesse emerso, riscaria o mapa do Ártico à África do Sul. Ali, no centro do Atlântico, as placas tectônicas se afastam centimetro a centímetro, abrindo lentamente o oceano e renovando o fundo marinho com magma recém-nascido. É um processo silencioso, mas contínuo, profundo, quase solene: a própria Terra respirando.

A dorsal funciona como uma colossal linha de fratura, onde o manto empurra magma para cima, solidificando-o em basalto e criando crosta oceânica jovem, raramente com mais de 200 milhões de anos. É uma região de tensões, fendas que se estendem por quilômetros, terremotos rasos e erupções vulcânicas submersas que, de tempos em tempos, chegam à superfície e dão origem a novas ilhas, como já ocorreu na Islândia. E, embora invisível à maior parte do mundo, esse processo de expansão não apenas transforma o assoalho oceânico, como interfere na circulação de correntes profundas, altera a química das águas e influencia a dinâmica de gases liberados para a atmosfera. A dorsal é, ao mesmo tempo, geografia e respiração, estrutura e metabolismo.

Mas a grandiosidade não é apenas mineral. Biologicamente, a Dorsal Mesoatlântica abriga alguns dos ecossistemas mais extremos da Terra. Nas fumarolas hidrotermais, onde a água supera 350 °C e sai carregada de metais e enxofre, a vida floresce sem luz. É ali que bactérias quimiossintéticas, organismos capazes de obter energia da química, e não do sol, sustentam vermes tubícolas gigantes sem boca, crustáceos cegos adaptados à escuridão absoluta, poliquetas bioluminescentes e moluscos que vivem em simbiose com microorganismos.

Essa região do Atlântico, entretanto, não é apenas um laboratório do presente. É também um marcador do futuro. A tectônica de placas funciona em ciclos que duram centenas de milhões de anos, alternando períodos em que os continentes se unem e depois se separam. Já tivemos supercontinentes como Rodínia, Colúmbia e, mais recentemente, a Pangeia. Hoje vivemos a fase expansiva do ciclo, com o Atlântico crescendo lentamente enquanto o Pacífico, repleto de zonas de subducção, começa a se contrair. Mas esse cenário não é eterno. Em algum momento, talvez daqui a 200, 300 ou 400 milhões de anos, o Atlântico poderá iniciar sua fase de fechamento. É possível que novas zonas de subducção surjam ao longo de suas margens, invertendo o sentido do movimento atual. A África pode continuar seu lento deslocamento rumo à Europa, fechando o Mediterrâneo, enquanto as Américas migram para oeste. Em alguns modelos computacionais, o resultado final é um supercontinente chamado Amasia, concentrado no hemisfério norte. Em outros, as massas continentais se reorganizam em torno de um único bloco centralizado: a chamada Pangeia Próxima, formada pelo fechamento total do Atlântico. E há ainda modelos mais ousados, como Novopangeia e Aurica, cenários em que tanto o Atlântico quanto o Pacífico se reconfiguram entre si.

A Dorsal Mesoatlântica é o ponto de partida dessas projeções. Ela nos lembra que a geologia não é estática e de que oceanos e continentes são apenas fotografias provisórias de uma história muito mais longa. Tudo o que conhecemos, costas, ilhas, planaltos, mares, está em movimento. A dorsal abre, as placas se afastam, a crosta se renova, a vida se adapta, e o planeta se rearranja em escalas de tempo que nenhum ser humano testemunhará, mas que determinam o cenário em que vivemos. É uma movimentação muito lenta, quase imperceptível, mas que transforma tudo.

Você conhece a espinha dorsal do Atlântico?

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