Vídeo de onça-parda avistada no bairro San Martin, em Campinas, é fake news
Biólogo da Mata de Santa Genebra confirma que tudo indica que o vídeo é uma produção gerada com recurso da Inteligência Artificial (IA)

Foto: Divulgação
Quem navega pelas redes sociais deve ter se deparado com um vídeo que mostra uma onça-parda circulando por uma área privada no bairro San Martin, em Campinas, neste fim de semana. Tudo indica que o vídeo foi gerado por inteligência artificial (IA) e aparição do animal é fake news (notícia falsa). A informação foi passada pelo biólogo da Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO), gestora da Mata de Santa Genebra, Thomaz Henrique Barrella.
"O Corpo de Bombeiros foi acionado e uma equipe da corporação esteve no local e nenhuma onça foi encontrada", contou o biólogo.
Segundo ele, na região, ao longo dos últimos anos, tem se notado um aumento nos casos de aparecimento de onças-pardas em áreas ocupadas pelos seres humanos, o que se deve principalmente pela expansão urbana e destruição de áreas naturais, fatores que forçam os animais a circularem por áreas onde normalmente não seriam encontrados.
Na Mata de Santa Genebra, há registro da existência de uma onça-parda fêmea desde 2012. "Mais recentemente, no final de 2023, constatou-se que são duas fêmeas adultas, que residem, procriam e utilizam toda a área do entorno para sua subsistência. O macho passa temporariamente por lá, assim como os filhotes, quando as fêmeas têm suas crias. Porém, são extremamente raras as ocorrências envolvendo esses animais nas propriedades que nos circundam”, afirma.
Mascote
No mês de setembro último, a onça-parda foi eleita mascote do Centro de Educação Ambiental da Mata de Santa Genebra. A escolha do felino foi feita pela população nas redes sociais e recebeu mais de 50% dos votos. No páreo, o macaco-prego e o bugio-ruivo, animais que também representam a biodiversidade da Mata de Santa Genebra.
Maior predador da região
A onça-parda é o maior predador da nossa região e sua presença garante o equilíbrio das populações das espécies que ela usa como alimento, ajudando a manter o equilíbrio ecológico da área como um todo.
A ARIE Mata de Santa Genebra
A Mata de Santa Genebra é uma Área de Relevante Interesse Ecológico, um fragmento florestal relativamente pequeno, mas um importante refúgio para a fauna nativa da região. Foram identificadas até o momento 329 espécies de vertebrados, sendo 17 anfíbios, 38 répteis, 220 aves, 51 mamíferos e 3 peixes. Quanto aos invertebrados, não existem estudos, exceto para borboletas, das quais foram identificadas mais de 700 espécies.
Dentre as espécies identificadas na unidade, destacam-se a onça-parda (Puma concolor), para a qual foram registradas desde 2013, três ninhadas, com um total de 4 filhotes, a Jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus), e o bugio-ruivo (Allouata guariba clamitans), estando todos estes na lista vermelha da fauna ameaçada do estado de São Paulo.
A FJPO realiza o monitoramento da fauna por meio de métodos diretos de observação e indiretos, como armadilhas fotográficas, pegadas e fezes. Isso permite acompanhar o fluxo dos animais na Unidade de Conservação e as variações sazonais que ocorrem.
Uma das características marcantes da Mata é que ela se encontra em uma transição do meio urbano com o rural, o que faz com que animais silvestres explorem os arredores da mata e acabem tendo contato com os seres humanos e com animais domésticos. O contrário também ocorre, sendo encontrados no interior da unidade animais domésticos, principalmente cães e gatos, que impactam significativamente a fauna local e o equilíbrio ecológico da floresta.
Ocorrências
Esta espécie de felino não é agressiva, e as ocorrências envolvendo humanos e animais domésticos (cães e gatos) não são comuns. No Brasil são escassos os registros de incidentes envolvendo humanos, e em geral estão relacionados a encontros onde o animal não tinha opção de fuga, que é seu instinto primordial.
As onças-pardas (Puma concolor) são felinos nativos, solitários, que ocorrem em todo o continente Americano, desde a Argentina até o Canadá. No estado de São Paulo estão na categoria de risco de extinção como vulnerável. São animais de porte grande, com as fêmeas pesando em torno de 50 kg e machos podendo chegar aos 70kg.
Sobre a onça-parda
Estes felinos apresentam uma coloração predominantemente marrom claro. A reprodução pode ocorrer ao longo de todo o ano, o período de gestação é de 90 a 95 dias e uma ninhada pode conter, geralmente, de 1 a 4 filhotes. O macho não participa dos cuidados com a prole, que fica sob os cuidados da mãe até que os filhotes atinjam cerca de 1 ano de idade. Após esse período cada filhote se dispersa em busca de uma área própria de vida.
Orientações quanto à presença de onças-pardas
Quanto às orientações para um convívio harmônico entre humanos e animais, assegurando a saúde e integridade de ambos, seguem algumas recomendações do biólogo:
- Em caso de avistamento, não se aproximar do animal, nem o seguir com o veículo, especialmente se for filhote, pois a mãe vai defendê-lo;
- Caso haja um encontro em curta distância, a pessoa deve se afastar devagar, sempre de frente para o animal, erguendo os braços para parecer maior e se possível fazendo sons altos. Caso esteja em mais de uma pessoa, colocar-se lado a lado e proceder da mesma maneira;
- Propriedades que possuam criação, especialmente aves e animais de pequeno e médio porte, recolher os animais no final da tarde em área telada, inclusive na parte superior;
- Procurar evitar deixar cães pequenos e gatos na área externa durante a noite;
- Não oferecer ou disponibilizar qualquer tipo de alimento;
- Em hipótese alguma realizar qualquer tipo de disparo, arma de fogo ou não, contra o animal;
- Caso o animal entre em alguma estrutura, e não consiga sair, acionar imediatamente a Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros.
As onças-pardas não gostam e não querem o contato com o ser humano, situação que pode colocar ambos em risco.