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Por Thomas

PROJETO TERRA VIVA: Girassóis sobre a terra ferida

O projeto Terra Viva chega a Itatiba para curar o solo adoecido pelo monocultivo, devolver dignidade aos pequenos agricultores e provar que a vida renasce onde há cuidado

Por Thomas

A terra, como a gente, adoece de dentro para fora. Primeiro ela perde a cor, depois a força, por fim, o silêncio se espalha onde já houve vida. Mas há cura. E ela começa quando alguém decide escutar.

Onde a terra adoece

A degradação do solo não começa com um vendaval, mas com uma escolha repetida por anos: o uso intensivo, o veneno em excesso, a pressa por produzir. Em Itatiba, mais de 300 hectares já apresentam sinais graves de esgotamento — solos ácidos, compactados, com baixa matéria orgânica, alta concentração de alumínio tóxico e perda quase total da capacidade de infiltração de água. É um solo que repele a vida. Incapaz de reter nutrientes, resistir à erosão ou sustentar uma lavoura sem correção química constante.

Esse processo é conhecido como desertificação agrícola. Um solo que já sustentou árvores frutíferas, hortas familiares e pequenos rebanhos passa a ser apenas poeira e exaustão. E o impacto disso não é só ecológico. É também social, econômico e humano.

Em Itatiba, mais de 200 pequenas propriedades agrícolas — muitas conduzidas por famílias há gerações — enfrentam esse dilema: plantar o quê, como, onde a terra não responde mais?

O que é o projeto Terra Viva

Foi diante desse cenário que nasceu o Terra Viva, um plano de manejo regenerativo que une ciência, agricultura e restauração ambiental. O projeto foi criado por mim, em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de recuperar solos degradados ao mesmo tempo em que fortalece os pequenos produtores e promove renda com base na agroecologia.

A proposta é clara: devolver à terra o que foi tirado dela — estrutura, matéria orgânica, equilíbrio — e fazer isso com a participação direta de quem depende dela para viver. O Terra Viva é, antes de tudo, um projeto de reaproximação entre o solo e o ser humano.

De Corumbá a Itatiba: onde o solo pede socorro

O Terra Viva teve início em Corumbá, no Mato Grosso, em uma área experimental de 300 hectares, onde foram realizados ensaios com girassol como planta de cobertura regenerativa. As análises mostraram recuperação significativa da fertilidade do solo, com redução dos níveis de alumínio trocável e aumento da matéria orgânica. A experiência serviu como base técnica para a expansão do projeto.

Hoje, o Terra Viva está em andamento em Itatiba (SP), numa área de aproximadamente 40 hectares nos bairros rurais de Morro Azul, Pedras de Ouro e San Martin. O local foi escolhido com base em mapeamentos de degradação e na presença de agricultores familiares vulneráveis ao empobrecimento do solo.

Por que começamos com girassol

O girassol (Helianthus annuus L.) foi a planta escolhida para o início da recuperação por sua rusticidade, profundidade radicular e resistência a solos ácidos. Mais do que uma flor simbólica, o girassol é uma ferramenta de fitorremediação, com capacidade comprovada de reduzir a concentração de alumínio no solo e melhorar suas características físicas.

Nos ensaios realizados em Corumbá, em apenas 90 dias de cultivo:

Houve redução média de 24% no alumínio trocável (Al³⁺);
O teor de matéria orgânica subiu de 1,7% para 2,4%;
O pH do solo foi elevado de forma natural;
Ao final, serão produzidos 450 litros de óleo vegetal, com comercialização direta em feiras agroecológicas.
O cultivo não apenas recupera o solo, como gera renda. A torta do girassol, subproduto do óleo, é rica em proteína e pode ser utilizada como ração animal ou adubo orgânico. O ciclo de cura e produção é completo.

Como o projeto funciona na prática

O Terra Viva atua em três eixos fundamentais:

Diagnóstico e manejo regenerativo
Cada propriedade recebe uma análise completa de solo, com laudos técnicos e um plano de manejo adaptado. São utilizadas culturas como girassol, crotalária, milheto e feijão guandu, com rotação planejada.
Assistência técnica e formação dos produtores
Os agricultores recebem acompanhamento técnico gratuito, capacitação em práticas agroecológicas, e apoio na organização de canais de comercialização direta e cooperativa.
Regeneração produtiva com renda imediata
O cultivo regenerativo não é apenas um investimento ecológico: é também uma fonte de renda. A venda do óleo de girassol, da torta proteica e os créditos ecológicos por serviços ambientais garantem retorno econômico desde o primeiro ciclo.
Metas e futuro

Até 2029, o projeto prevê:

Recuperar 300 hectares de solo degradado em Itatiba;
Incluir 500 famílias produtoras em um sistema de produção sustentável;
Criar um viveiro comunitário de plantas nativas e flores para recompor a vegetação e formar corredores ecológicos;
Publicar todos os dados em acesso aberto, com rigor técnico e transparência, para replicação do modelo em outros municípios.


Um novo ciclo começa

O Terra Viva é mais do que uma tecnologia de recuperação. É um posicionamento político, ecológico e ético. Em tempos de colapso ambiental, em que a devastação é vendida como progresso, ele propõe outra lógica: cuidar, regenerar, respeitar os ciclos da terra — e, sobretudo, das pessoas que dela dependem.

Não se trata de romantizar o campo. Trata-se de reconhecer que não existe futuro possível em solo morto. Quando a terra adoece, toda a cadeia de vida adoece junto. Mas quando ela começa a se curar, tudo ao redor floresce. O Terra Viva é sobre isso: dar à vida a chance de voltar.

Quer saber mais sobre o projeto, participar ou replicá-lo em sua comunidade?
contato@terraviva.org.br

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