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Por Roberto

Primeiro transplante de medula realizado em Campinas completa 30 anos

Primeiro procedimento feito fora de uma capital brasileira deixou marcas pelo pioneirismo e inovações

Por Roberto

Foto: Divulgação

Há 30 anos, Campinas entrava para a história ao realizar o primeiro transplante de medula óssea fora de uma capital brasileira. O procedimento foi resultado de adaptações e da determinação de profissionais médicos. O oncologista clínico André Moraes, do Centro de Oncologia Campinas (COC), esteve à frente da iniciativa responsável por iniciar Campinas na trajetória do pioneirismo. Ao longo de 1993, dez transplantes de medula bem-sucedidos foram feitos pela equipe, oito deles no Centro Médico de Campinas e dois no Hospital Samaritano.

A data de 30 anos é emblemática por trazer à tona uma história de solidariedade, cotizações e adequações – como, por exemplo, utilizar o micro-ondas cedido por um dos médicos para preparar as refeições do paciente, recrutar e treinar uma equipe completa de suporte, levantar apoio para a gratuidade do procedimento e montar toda uma estrutura em menos de cinco meses.

 Até 1993, os transplantes de medula óssea só ocorriam em três capitais brasileiras: Curitiba, a pioneira, São Paulo e Rio de Janeiro. Campinas já era considerada referência do tratamento do câncer. Apresentava recursos humanos de ponta, porém, ainda não possuía estrutura desenvolvida para realizar os procedimentos. Foi então que um jovem natural do Rio de Janeiro, à época com 23 anos, impulsionou a mobilização que resultou em sucesso e vidas salvas.

“Chegou até nós um paciente, vindo do Rio de Janeiro, que tinha uma indicação formal para transplante de resgate, porque a doença não tinha se curado com o primeiro procedimento. Era um paciente com Linfoma de Hodgkin. Nos pediu ajuda após ter recebido uma recusa de tratamento do Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer”, recorda o médico André Moraes.

O caso não foi aceito no Rio, resume Moraes, porque o paciente possuía indicação para transplante autólogo – quando as células da medula óssea provêm do indivíduo transplantado – e a instituição no Rio estava praticamente dedicada a transplantes alogênicos (quando a medula é de um doador compatível). “Havia um paciente e uma estrutura passível de ser adaptada. A partir daí, demos início ao processo para tornar esse transplante possível”, conta o especialista.

As adaptações e a solidariedade predominaram ao longo de toda fase de preparação para o procedimento. O Centro Médico de Campinas cedeu as instalações; o banco de sangue do hospital, por meio do médico Leandro Grilo, ingressou na empreitada; empresas foram contatadas para doação de materiais e equipamentos de proteção; o hospital Albert Einstein, de São Paulo, aderiu à ação. O planejamento então começou.

Um quarto de UTI do Centro Médico foi disponibilizado gratuitamente para receber o paciente em condições de isolamento. A equipe iniciou o treinamento de todos os envolvidos no processo. Do pessoal de suporte aos profissionais médicos, todos passaram por preparação especial. “Eram muitos detalhes. Mesmo o pessoal da limpeza, apesar de muito bem preparado pelo hospital, precisou de orientações específicas para a situação de transplante”, detalha André Moraes.

O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, contribuiu de forma decisiva. “A filantropia do hospital, que atendia casos do SUS, numa troca de prestação de serviços, nos ajudou. A equipe dos médicos Nelson Hamerschlak e Eurípedes Fernandes se prontificou a fazer a coleta da medula óssea e a preservação”, relata Moraes. A conservação da medula é realizada por meio da criopreservação, uma técnica de congelamento para preservar células e tecidos. Em 1993, esses procedimentos não eram realizados por nenhuma instituição de Campinas.

“Combinei com o pessoal do banco de sangue do Centro Médico porque precisaríamos de um suporte hemoterápico intenso, específico. Conversamos com o hospital, que cedeu gratuitamente essa área de isolamento. As necessidades foram sendo prontamente atendidas por todos que procuramos”, recorda, citando mais um detalhe curioso do processo.

“Houve outra adequação muito interessante que fizemos. A dieta do paciente deve ser preparada em micro-ondas, porque esse tipo de cozimento estereliza o alimento. Eu levei o micro-ondas da minha casa ao hospital para dar conta das refeições”, diz o oncologista.

No 13º dia após a infusão no paciente da medula preparada pelo Albert Einstein, houve a pega medular. “Uma semana depois ele já tinha recebido alta. Fiz o acompanhamento dele na Unicamp por muitos anos. Ele viveu bastante tempo e acabou falecendo tempos depois em virtude de uma infecção alimentar não relacionada à ocorrência do linfoma”, conta o oncologista do COC.

“Cunharam uma frase sobre ‘cuidados centrados no paciente’ bastante utilizada nos tempos atuais. Mas isso já existia naquela época, só não tinha esse nome. Esse paciente do Rio foi um caso emblemático, que mostra exatamente isso, que todo mundo se equipou, se preparou, para poder oferecer todo o suporte que ele precisava”, analisa André Moraes.

A estrutura adaptada serviu a muitos outros propósitos. Mais sete pacientes receberam transplantes autógenos de medula óssea no Centro Médico no ano de 1993, e outros dois foram atendidos pela equipe no Hospital Samaritano de Campinas. Todos os procedimentos foram bem-sucedidos.

“Nossos pacientes viveram muitos anos após o transplante. Uma delas se tornou nutricionista e depois veio a trabalhar no COC. Outra correu a São Silvestre. Dentre aqueles pacientes, havia também um médico”, especifica. “Não fosse a disponibilização do Centro Médico, o equipamento da hemoterapia do hospital, sob responsabilidade do hematologista e hemoterapeuta Leandro Grilo, e a dedicação de toda a equipe médica nada disso teria acontecido”, agradece.

 O embrião

O vanguardismo da iniciativa conjunta no Centro Médico de Campinas criou raízes que se espalharam depois. André Moraes e outros profissionais do Centro de Oncologia Campinas implantaram na Santa Casa de Limeira um Centro Oncológico preparado para realizar transplantes medulares. No mesmo ano de 1993, a Unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO) da Unicamp entrou em operação. A diretoria do Centro Médico de Campinas retomou o programa de transplantes de medula há dez anos. Nesse período, realizou mais de 120 procedimentos.

“Em 1996, montanos uma unidade de oncologia na Santa Casa de Limeira. Um ano depois, a unidade de transplante de medula óssea começou a funcionar. Fizemos vários transplantes. Coletávamos a medula lá mesmo, e o material era preservado na Unicamp. Fizemos, inclusive, alguns transplantes de pacientes que estavam na fila do SUS na Unicamp”, detalha Moraes.

 Sobre o COC

O Centro de Oncologia Campinas dispõe de uma equipe multidisciplinar para oferecer todos os níveis de cuidados aos pacientes, incluindo serviços complementares ao tratamento. Possui salas de imagens, de quimioterapia, radioterapia, análises clínicas e imunoterapia. Também realiza atendimentos nas áreas de oncogenética, psico-oncologia, odonto-oncologia e hematologia, dentre outras.

Recentemente, o COC inaugurou o Centro de Endoscopia Digestiva, que realiza procedimentos diagnósticos, terapêuticos e de prevenção das lesões do aparelho digestivo alto (esôfago, estômago e duodeno) e baixo (cólon).

Mais de 30 médicos compõem o Corpo Clínico do Centro de Oncologia Campinas. Na sua maioria, especialistas detentores de excelência técnica, resultado da natureza e origem de suas respectivas formações. Serviços de nutrição, educação física, fisioterapia, odontologia e farmácia complementam os cuidados dentro da instituição, que atende mais de 30 convênios médicos.

O Centro de Oncologia Campinas completará 46 anos de história em novembro. Fica localizado à Rua Alberto de Salvo, 311, Barão Geraldo, Campinas. O telefone de contato é (19) 3787-3400.

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