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POR QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL É NOSSA ÚNICA ALTERNATIVA?

Por Daniele Fumachi, para a coluna Papo Verde

Por Thomas

Vivemos a era da evidência. A mudança climática não é mais uma previsão, mas um dado. O desmatamento não é um risco futuro, é uma ação presente. A perda de biodiversidade, a escassez de água potável e o colapso dos ciclos ecológicos já são parte do cotidiano de comunidades inteiras no Brasil e no mundo. Diante de um cenário em que os alertas da ciência se confundem com as manchetes dos jornais, resta uma pergunta: o que ainda pode ser feito?

A resposta não está apenas na tecnologia, na economia verde ou em pactos internacionais de metas que são inatingíveis. A resposta está, e sempre esteve, na educação ambiental. Não como disciplina periférica em aulas escolares tediosas, mas como processo de transformação de uma cultura inteira. É por isso que afirmo, com urgência e convicção: a educação ambiental é nossa única alternativa real.

Um planeta educado ou um planeta esvaziado?

Pensem sobre essa questão.

A Organização das Nações Unidas já afirmou que até 2050, cerca de 5 bilhões de pessoas poderão enfrentar escassez de água. No Brasil, o MapBiomas revelou que 17% da superfície de água do país desapareceram nas últimas três décadas. Ao mesmo tempo, queimadas, desmatamento e monoculturas seguem avançando sobre os biomas, sob uma lógica de exploração insustentável.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C exige mudanças “sem precedentes” em todos os setores da sociedade. Mas nenhuma dessas mudanças ocorrerá sem uma população informada, consciente e crítica. É aí que entra a educação ambiental: como a base de um novo projeto de sociedade.

Mais que técnica uma técnica é consciência

Suzana Paduá, referência nacional e internacional em educação ambiental, defende que “a conservação da natureza só será possível se as pessoas compreenderem sua interdependência com o ambiente”. Não basta criar áreas protegidas, restaurar ecossistemas ou desenvolver biotecnologias. É preciso formar sujeitos capazes de cuidar, interpretar, interferir e, sobretudo, resistir à lógica destrutiva vigente.

Esse processo não se resume à escola. Está nos territórios, nas comunidades, nas práticas cotidianas. É um aprendizado que acontece ao plantar uma árvore, ao recuperar um rio, ao defender um território indígena. Educação ambiental, nesse sentido, não é ensinar sobre a natureza, é aprender com ela.

Para o líder indígena, escritor e pensador brasileiro, Ailton Krenak, “nós nos descolamos da Terra, como se ela fosse uma coisa fora de nós”. Recuperar essa ligação é um ato educativo e político. É reconhecer que não somos “donos” da natureza, mas parte dela. E que qualquer modelo de progresso que destrói o que sustenta a vida é, no fim, um modelo de suicídio coletivo. Já falamos sobre isso aqui na coluna, e volto a lembrá-los.

O desafio estrutural

Apesar da importância reconhecida em conferências internacionais como a ECO-92 e a Rio+20, as COPs, a educação ambiental no Brasil ainda enfrenta obstáculos. Muitos! Um deles e arrisco dizer que o principal é a falta de prioridade nas políticas públicas. Outro é a visão reducionista que a limita a atividades pontuais, sem continuidade ou profundidade.

O Plano Nacional de Educação Ambiental (PNEA) existe desde 2005, mas nunca foi plenamente implementado. A maioria das escolas ainda não tem diretrizes claras para a inserção transversal do tema. E nas universidades, a formação de educadores ambientais é fragmentada ou inexistente.

Segundo dados do IBGE (2021), apenas 40% dos municípios brasileiros têm algum tipo de ação formal de educação ambiental. E, entre os que têm, grande parte se resume a campanhas sazonais de coleta seletiva ou plantio simbólico de árvores.

A estrutura atual é insuficiente para o tamanho do desafio. Não se trata mais de “conscientizar” a população, mas de ressignificar toda a forma como vivemos, produzimos e convivemos no planeta.

Educação ambiental como resistência e reconstrução

A educação ambiental que o Brasil precisa não é neutra, nem ingênua. Ela é política. Ela denuncia, questiona, propõe. Ela olha para o modelo de agronegócio que desertifica terras, para as barragens que secam rios, para a mineração que invade territórios indígenas e diz: isso não é desenvolvimento, é destruição.

Mas ela também aponta caminhos. Comunidades agroecológicas, escolas sustentáveis, juventudes engajadas em mutirões de reflorestamento, professores que transformam lixo em aprendizado, povos originários que ensinam a escutar a floresta. Cada uma dessas ações é um ato pedagógico. Cada gesto de cuidado é também um gesto de futuro.

Estamos diante de um ponto de bifurcação na história humana. Ou aprendemos com rapidez a reconstruir nossas relações com o planeta, ou perderemos, pouco a pouco, as bases da própria existência. A educação ambiental não é um complemento. É nossa última chance de reconciliação com a vida.

Não temos mais tempo para práticas ilusionarias. Temos a chance, e o dever, de fazer da educação ambiental o alicerce de um novo pacto civilizatório. Porque, no fim das contas, não há plano B para quem destrói o próprio chão.

POR QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL É NOSSA ÚNICA ALTERNATIVA?

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