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Por Thomas

O Projeto de Lei da devastação

Por Thomas

Na calada da noite, enquanto o povo sonhava — ou apenas tentava sobreviver —, o Congresso Nacional assinava mais um capítulo da tragédia brasileira. Aprovado às pressas, na madrugada do dia 17 de julho de 2025, o chamado PL da Devastação foi empurrado goela abaixo da nossa democracia como um veneno sorrateiro. E o nome já diz tudo. Não há eufemismo que disfarce o conteúdo de uma lei que institucionaliza a destruição, que entrega os territórios, que silencia as matas e torna irrelevante o olhar técnico, científico e ancestral sobre os ciclos da Terra.

E tudo isso acontece no mesmo país que se orgulha, aos quatro ventos, de sediar a COP30. A mesma terra que expulsa indígenas, queimada de Norte a Sul, finge se vestir de verde para receber chefes de Estado, enquanto o chão queima de verdade, o rio seca de verdade, e o povo morre — de verdade.

Que hipocrisia é essa, Brasil?

Sediar a COP30 deveria ser um ato de esperança, mas virou vitrine para maquiagem ambiental. Um país que rasga seu licenciamento ambiental com um projeto de lei votado às escondidas não está preparado para liderar debate algum sobre o futuro do planeta. Porque não há futuro possível onde a vida não é prioridade. Não há inovação sustentável quando os saberes ancestrais são ignorados, quando os territórios originários são violados, quando os rios viram esgoto e a floresta vira cinza.

Estão nos vendendo por hectares. Por soja, por cana, por gado. Mas, principalmente, por silêncio.

Os povos originários sempre souberam que o mundo não se resume ao agora. Que toda escolha deixa rastros. E que devastar é um verbo com ecos profundos. Quando uma árvore cai, não é só madeira que vai ao chão. Vai junto um tempo que não volta. Vai o espírito da floresta. Vai o frescor do vento. Vai a chuva que não virá.

Agora, ao desmantelarem o licenciamento ambiental com esse projeto, eles estão dizendo: "não importa mais o cuidado, a escuta, o estudo, a consulta". Eles estão dizendo que o lucro vale mais que o ciclo da água. Estão dizendo que o agronegócio vale mais que a vida. E eu me pergunto: quem autorizou isso? Quem pediu para que a técnica fosse substituída pela autodeclaração? Que democracia é essa que decide o destino das florestas enquanto dormimos?

A Terra não é muda. Ela só não fala em português. Ela grita em incêndios, em estiagens, em rios que não chegam ao mar. E se fingirmos que não ouvimos, não será porque ela não nos avisou — mas porque nós nos tornamos surdos.

Há tempos que alertamos: sem floresta, não há chuva. Sem chuva, não há alimento. Sem alimento, não há povo. E ainda assim seguimos — ou melhor, eles seguem — zombando dos avisos. Como se a Terra fosse infinita. Como se o tempo não tivesse memória. Como se a vida fosse descartável.

Enquanto os homens de paletó assinam papéis com mãos sujas de passado, nós seguimos semeando futuro. E se nos tiram o amanhã, vamos plantar resistência no agora. Porque a Terra não pertence a eles. A Terra não é mercadoria. A Terra é mãe. E mãe nenhuma aceita calada que matem seus filhos.

Não nos calaremos.

Não por nós, apenas.

Mas por aqueles que ainda virão.

E que, ao pisarem neste chão um dia, possam encontrar uma árvore. Um rio. Um bicho. Um silêncio vivo. E não apenas a lembrança do que fomos.

“O mundo não vai acabar num estrondo, mas num sussurro.” — disseram.
Mas no Brasil de 2025, o fim vem com aplausos no plenário, flashes na COP e fogo nas matas.

O Projeto de Lei da devastação

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