Esclerose Múltipla: neurologista da Santa Casa esclarece mitos e desafios da doença invisível

Foto: Márcio Egidio / JI
A esclerose múltipla (EM) ainda é cercada de dúvidas, preconceitos e diagnósticos tardios. Em entrevista à reportagem do Jornal de Itatiba e da Rádio CRN, o neurologista da Santa Casa, Dr. Carlos Lemes, reforça que a doença “se manifesta com sintomas neurológicos variados, dependendo da região afetada no cérebro”. Por isso, afirma, “é comum ser confundida com outras doenças, ou mesmo com ansiedade e estresse”.
Entre os sinais que exigem atenção imediata estão fraquezas agudas, perda visual e dor facial. “Esses sintomas aparecem, permanecem por dias ou semanas e depois melhoram. Esse comportamento é típico e deve levar o paciente a procurar avaliação neurológica”, enfatiza.
Para o especialista, a EM é chamada de invisível porque “alterações visuais, de humor, vertigem e dor não são vistas externamente”. Ele acrescenta: “O diagnóstico é difícil devido à grande variedade de sintomas”.
A forma mais comum é a recorrente-remitente. “São sintomas que duram dias ou semanas, depois desaparecem e podem retornar”, explica. Já a secundariamente progressiva é “igual à anterior, com piora gradual dos sintomas”.
“A doença é mais frequente em mulheres jovens, entre 20 e 40 anos”, aponta. Nos surtos, há um ataque à bainha de proteção dos neurônios: “Existe a destruição de uma parte da célula nervosa chamada mielina. Daí a EM ser classificada como doença desmielinizante.”
Tratamento e acompanhamento
“O tratamento é feito com medicações imunossupressoras, que diminuem a produção dos anticorpos que atacam as células nervosas”, diz o neurologista, lembrando que há opções disponíveis no SUS. E reforça: “O tratamento precoce ajuda a prevenir novos surtos e, portanto, impede ou diminui as sequelas neurológicas.”
O cuidado é multiprofissional. “Fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e cuidadores podem fazer parte do tratamento, dependendo dos sintomas e das sequelas.”
Vida possível e desafios
Segundo o médico, “a depender da forma da esclerose múltipla, pode-se sim ter uma vida normal”. Mas os desafios são grandes: “A doença costuma ser vista como uma sentença de morte ou de deficiência. Isso causa terríveis transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão. Já as deficiências trazem transtornos sociais, como incapacidade de trabalho, alto custo do tratamento e a necessidade de cuidadores nos casos mais graves.”
Para reduzir o impacto no cotidiano, Dr. Carlos recomenda: “Alimentação equilibrada, evitar bebida alcoólica, não fumar, praticar exercícios físicos regulares, ter boa qualidade de sono, evitar o estresse e seguir corretamente as orientações médicas.”