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Por Redação

Luciana ao JI: “A exclusão das mulheres das esferas de poder e tomada de decisão é histórica e, embora as coisas estejam caminhando para uma melhora ainda temos um longo caminho a percorrer”

Por Redação

Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, dia 8, o Jornal de Itatiba publica entrevista com a vereadora Luciana Brnardo (PDT), como parte da série de entrevistas realizadas com o Legislativo itatibense.

A vereadora Luciana está em seu primeiro mandato na Câmara Municipal, e nesta entrevista no dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Luciana falou sobre esse papel, destacando que ainda há um longo caminho a percorrer. “Possuímos uma Câmara com pouca representação feminina, de 17 vereadores, apenas duas são mulheres. Portanto, além desses três anos terem sido de muito aprendizado, foram de muitos desafios conhecendo a política na prática”.

           

Confira a entrevista completa.

JI: A senhora está em seu primeiro mandato. Como avalia esse período de trabalho?

LUCIANA: A exclusão das mulheres das esferas de poder e tomada de decisão é histórica e, embora as coisas estejam caminhando para uma melhora ainda temos um longo caminho a percorrer. Possuímos uma Câmara com pouca representação feminina, de 17 vereadores, apenas duas são mulheres. Portanto, além desses três anos terem sido de muito aprendizado, foram de muitos desafios conhecendo a política na prática. É uma realidade que, como mulher na política, a busca não é ser ‘como os homens’, porque o que nos faz diferentes é o que faz com que possamos entender e lutar pelas pautas e direitos das mulheres, no entanto, como mulher, sinto a responsabilidade de constantemente me superar, estudar muito e se dedicar quase que inteiramente à política, sem deixar de lado minhas outras jornadas, para que possa ser respeitada. Dito isso, trabalhamos bastante, posso dizer que conseguimos utilizar muito bem nosso mandato para ajudar as pessoas, principalmente quem mais precisa ou quem sofre pela falta de representatividade, o que acredito que se tornou uma espécie de ‘marca’ do nosso trabalho. Conseguimos um dos nossos maiores objetivos que é de um mandato participativo, ouvindo e trabalhando junto da população. Observo que hoje, quem nos procura se sente representado e sabe que pode contar com a nossa ajuda, sempre dentro das mudanças que a política pode trazer para a sociedade.

 

JI: Na sua trajetória política, pertenceu a quais partidos? O que fez se identificar com a filosofia do PDT?

LUCIANA: O primeiro partido em que me filiei foi o PT, até o início dos anos 2000. Depois, até 2015, me filiei ao PPS atual Cidadania, em 2017 vim para o PDT. O PDT é um partido que me identifico, pois é um partido de centro-esquerda, um partido que defende educação com nossos grandes líderes como Leonel Brizola e Darci Ribeiro. É um partido que defende o trabalhismo e que tem suas raízes no Getulismo, quando foram colocados em prática grande parte dos direitos trabalhistas hoje existentes. Portanto, um partido que me permite defender as bandeiras que acredito como a educação, o trabalhismo, direitos humanos e o respeito à diversidade, pessoas e pensamentos plurais.

 

JI: Alguns políticos tradicionais estão mudando de partido após a última eleição presidencial. A senhora pretende trocar de partido na próxima janela?

LUCIANA: O processo de mudança de partido é uma movimentação natural na política. O que não pode mudar é o trabalho e a filosofia da pessoa. Durante esses quase quatro anos me mantive fiel às minhas bandeiras independentemente de legenda partidária e assim continuará. Eu sempre serei a vereadora que doa livros, a vereadora que apoia a diversidade, a cultura, as mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade.

 

JI: A classe política muitas vezes é criticada e desacreditada (em nível geral) pela opinião pública. Qual o papel que os integrantes do Legislativo podem exercer para o resgate dessa credibilidade?

LUCIANA: Infelizmente existem muitos exemplos ruins na política assim como em todas as áreas. Porém, felizmente ainda existe esperança, mesmo que o próprio sistema acabe estimulando as pessoas a não acreditarem nos políticos. A classe política vive hoje esse descrédito, pois, muitas vezes trabalham apenas pelos seus interesses, seguindo o ciclo político de quatro anos e não mantém o contato com o povo. Portanto é normal esse descrédito e eu penso que um grande problema nisso é o que citei anteriormente, a política feita pensando em um ciclo político de quatro anos, sendo que as políticas públicas implantadas agora, deverão ter efeito a curto, médio e longo prazo. Investir na educação, na organização de grupos sociais, por exemplo, poderá não trazer resultados imediatos, mas mudará toda a sociedade. Outra coisa comum em campanhas é prometer o que não é função do vereador, por isso o descrédito, é preciso manter suas bandeiras e não se afastar dos seus eleitores. Eu foco muito na minha independência, o que me permite trabalhar pensando no coletivo e não pensando nos interesses de um governo ou de um grupo específico. Essa independência também me permitiu ajudar as pessoas, a cidade, além de me dar liberdade para ser uma oposição responsável e propositiva. Enquanto parlamentar procuro realmente trazer para o debate o que a população precisa, o bem coletivo, e não o que determinado grupo ou projeto de poder quer.

 

JI: Em 2016, criou o ‘Projeto Lei Tura, a Lei que muda o mundo’. Nos fale um pouco sobre esse projeto.

LUCIANA: Quando morava na fazenda Paraíso e estudava na escola rural comecei a me apaixonar pela leitura, graças a minha professora Ana Maria Vaz. Mas como vivia em situação de vulnerabilidade social não tinha condições de comprar livros e, por morar na fazenda, tinha dificuldade em vir para a biblioteca pública. Desde então meu sonho era ter livros suficientes para doar para as pessoas, de forma que o conhecimento se espalhasse. Quando fiz 15 anos e comecei a trabalhar, consegui comprar livros e doar para conhecidos, mais tarde surgiu a ideia de arrecadar livros em bom estado e doar para mais pessoas. Há seis anos começou o Projeto Lei Tura com uma mesa e poucos livros nas ruas de Itatiba. Depois, com a ajuda do meu marido Aires Ribeiro e passando a divulgar na Internet, o projeto cresceu e foi ganhando colaboradores. Hoje já foram mais de 40 mil livros doados em Itatiba.

O projeto é totalmente voluntário e hoje conta com uma barraca nas feiras livres da cidade às quintas e aos domingos. O projeto também é chamado por empresas e eventos, algumas escolas e bairros, onde são feitas as doações. Hoje, o acervo do projeto Lei Tura conta com milhares de livros, parte deles ficam guardados na casa dela em casa e, a cada dia de feira ou projeto em outro local, são selecionados por temas e levados para a barraca.  Para doar basta entrar em contato pelas redes sociais, ou ir até a feira livre nas quintas e domingos.

 

JI: A senhora tem muita identificação como moradora na infância da Fazenda Paraíso, inclusive realizando um evento com moradores da época. Como foi esse encontro para resgatar raízes? Pretende repetir?

LUCIANA: A vida na Fazenda Paraíso era difícil, pois não existiam políticas públicas para ajudar quem precisa. Era uma vida dura, pesada, ganhando pouco. Muitas famílias em vulnerabilidade social, mas, apesar de tudo isso, os moradores eram unidos, tínhamos uma amizade sólida. Depois que os trabalhos na Fazenda se encerraram, todos seguiram as suas vidas e acabamos nos afastando, algumas famílias foram morar em bairros diversos na cidade e até fora de Itatiba. Não nos víamos há anos e resolvi criar um grupo em uma rede social e muita gente entrou no grupo. Esse encontro era para ter acontecido em 2020, mas em função da pandemia adiamos e conseguimos realizar no ano passado. Foi muito emocionante e importante para nós e esperamos realizar outro nesse ano.

 

JI: Cite até 3 projetos de sua autoria que foram aprovados e que são importantes para a cidade nessa sua trajetória como vereadora?

LUCIANA: Durante nosso mandato apresentamos 10 projetos de lei, todos voltados para o social e para a fiscalização orçamentaria. Desses 10 PLs, apenas   um foi aprovado e sancionado, que é o PL 86/21 o qual se transformou na Lei 5582/23 tendo minha autoria e a do vereador Juninho Parodi. A lei 5582/23 tem como objetivo instituir no município de Itatiba o “Programa Municipal de Prevenção ao Abandono Escolar”. A evasão escolar é um problema preocupante e crescente que atinge a nossa sociedade como um todo, comprometendo diretamente o desenvolvimento educacional do país.

Citando um outro exemplo, temos o PL 61/21- Dispõe sobre a inserção social da comunidade surda, mediante o acesso dos surdos e sua família a língua brasileira de sinais- LIBRAS-, a partir do diagnóstico médico, no intento do indivíduo já se familiarizar com a linguagem desde a primeira infância, lembrando que para a comunidade surda a primeira língua é a LIBRAS e a segunda é o português.

Os outros PLs estão aptos aguardando serem pautados para votação, e têm cunho social onde resguarda o direito a uma sociedade mais inclusiva, acolhedora, justa e equitativa respeito a diversidade. Também apresento a importância transparência orçamentaria aos munícipes, no PL 27 de 2023, proponho que o executivo divulgue informações relativas aos contratos de locação nos imóveis locados pela prefeitura, acho importante que a municipalidade tenha conhecimento onde o dinheiro público é direcionado pela administração pública municipal. Os Projetos de Lei estão à disposição no site da Câmara Municipal de Itatiba, para todos que tiverem interesse de se inteirar mais sobre aa propostas de leis que são apresentadas junto ao legislativo e executivo.

 

JI: Na sua opinião, qual a principal função de um vereador nos dias atuais?

LUCIANA: Acredito que as três principais funções do vereador: legislar, fiscalizar e representar são complementares e importantes. Mas a representatividade importa muito para mim porque é possível utilizar da minha posição na Câmara para dar voz a pessoas que não tem visibilidade social, não tem acesso a política ou não conhecem seus direitos. A representatividade dá engajamento político para esses cidadãos e o poder público passa a enxergá-los. E quando o poder público vê a realidade das pessoas que mais precisam, pode levar cidadania para essas pessoas. Eu vivenciei essa realidade, a falta de representatividade e políticas públicas. Eram muitos problemas que eram invisibilizados como por exemplo: deixar de ir à escola por não ter absorvente, pegar ônibus no sol e chuva com criança no colo, não ter acesso a livros, não ter transporte e ter muita dificuldade para ir da fazenda a escola, o que fazia a pé. Vivenciando ou enxergando essa realidade é possível pensar em políticas públicas que evitem que as pessoas passem pelo que passei.

 

JI: Por fim, quais são seus hobbies?

LUCIANA: Eu amo leitura e dedico boa parte do meu tempo livre para ler. Adoro assistir documentários e gosto muito de filmes cult. Quando temos tempo eu e meu marido vamos ao cinema.

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