Líderes globais desembarcam na Amazônia para o início da COP30
PLANTÃO COP30
No dia 6 de novembro, Belém se tornou o centro do mundo. A COP30 — conferência global do clima — começou oficialmente e já movimenta decisões, promessas e polêmicas que revelam tanto o desespero do planeta quanto a fragilidade da política climática internacional. O Brasil tenta se firmar como protagonista e, pela primeira vez, a Amazônia ocupa o palco principal da história climática.
Logo na abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao palco com um discurso enfático: “é hora de levar a sério os alertas da ciência”. O tom foi o de quem quer marcar território. O governo brasileiro lançou o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), fundo internacional criado para valorizar as florestas em pé e remunerar a proteção de biomas tropicais. O anúncio veio acompanhado de cifras que impressionam: o fundo já nasce com US$ 5,5 bilhões prometidos, sendo US$ 3 bilhões da Noruega, que confirmou o investimento histórico em parceria com outros países e investidores privados. O primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Støre destacou que “a Amazônia precisa de mais do que palavras, precisa de compromissos que se tornem resultados concretos”.
O TFFF, idealizado pelo Brasil, tem ambição de mobilizar até US$ 125 bilhões no longo prazo, combinando recursos públicos e privados. Segundo Lula, o fundo será “um instrumento para valorizar quem protege e para punir quem destrói”. A proposta foi recebida como um símbolo poderoso, mas ainda carece de explicações práticas sobre governança, repasse e controle.
Entre os líderes presentes estiveram o secretário-geral da ONU, António Guterres, o príncipe William, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, e representantes da União Europeia, França, Congo e Bélgica. Guterres abriu a conferência com um alerta duro: “Falhar em manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C é um fracasso moral e uma negligência mortal.” O relatório apresentado pela ONU confirma: os anos de 2023, 2024 e 2025 formam a sequência mais quente da história, um sinal inequívoco de que os limites do planeta estão sendo ultrapassados.
O príncipe William, em um dos discursos mais comentados do dia, pediu “coragem, cooperação e compromisso inabalável” diante da crise climática. Em suas palavras: “Precisamos nos perguntar que legado queremos deixar. O caminho será difícil, mas esta é uma oportunidade profunda. O que fizermos agora determinará o futuro das gerações que virão.” A fala foi aplaudida de pé e interpretada como uma mensagem direta às potências que ainda hesitam em agir.
Enquanto o Brasil tenta consolidar protagonismo, a União Europeia anunciou sua nova meta climática: reduzir em 90% suas emissões até 2040. A decisão foi celebrada, mas o texto permite maior uso de créditos de carbono externos, um ponto criticado por ambientalistas, que veem nisso o risco de metas artificiais e compensações frágeis.
Na África, um anúncio de impacto reforçou o foco nas florestas: a França lidera uma coalizão internacional para proteger a floresta do Congo, o segundo maior bioma tropical do planeta, com aporte inicial de US$ 2,5 bilhões. A iniciativa tem apoio de Noruega, Bélgica e Reino Unido, e busca ampliar o olhar global sobre a preservação das florestas tropicais além da Amazônia.
A ausência dos Estados Unidos na conferência gerou desconforto e críticas abertas. A Noruega classificou a decisão americana de não enviar representantes de alto escalão como “um erro estratégico que enfraquece a cooperação internacional”. A lacuna de liderança norte-americana coloca pressão adicional sobre o bloco europeu e o Brasil, que agora precisam sustentar o protagonismo climático sem a maior potência do planeta à mesa.
Entre os pontos ainda em aberto está o financiamento climático global, um dos temas mais sensíveis da conferência. A chamada “Roadmap Baku a Belém” prevê o repasse anual de US$ 1,3 trilhão até 2035 para apoiar países vulneráveis, mas o plano ainda carece de definições sobre quem paga, quando e sob quais condições. O secretário-geral da ONU alertou que, sem metas mais ousadas e investimentos efetivos, o planeta seguirá em rota de 2,5 °C de aquecimento, muito além do limite seguro.
O contraste interno do Brasil também foi alvo de observação: o país que defende o fim do desmatamento segue liberando novas concessões de exploração de petróleo, como o anúncio das últimas semanas sobre a Foz do Amazonas. A contradição entre discurso e prática ambiental é uma das pautas mais comentadas nos bastidores da COP30. A credibilidade do país dependerá da coerência entre a política climática e sua política energética.
No meio das discussões, um momento curioso ganhou as redes: Paul McCartney criticou a presença de carne no cardápio da conferência. “Servir carne em um evento sobre o clima é como oferecer cigarros em uma campanha contra o câncer”, declarou o ex-Beatle. A frase viralizou e simbolizou o choque entre discurso e coerência, algo que, em diferentes escalas, perpassa toda a COP.
Belém vive um clima intenso, com protestos de movimentos indígenas, ONGs e ambientalistas ao redor do Hangar — sede da conferência. A energia é de urgência, de quem sabe que o tempo está se esgotando.
A COP30 quer ser lembrada como a conferência da virada, aquela em que as promessas finalmente se transformaram em compromissos reais. O fundo de US$ 5,5 bilhões anunciado hoje é o passo mais concreto até agora, mas a história mostrará se ele será o início de uma nova era ou apenas mais um número perdido nas estatísticas da boa intenção.
As florestas estão no centro das atenções. O planeta envia sinais cada vez mais urgentes. O relógio climático não para. O mundo observa o Brasil — e a Amazônia — esperando mais do que discursos bonitos. O tempo das promessas acabou. Agora é agir ou assistir ao colapso se tornar rotina.
