Evento mundial trará consenso sobre cirurgia minimamente invasiva para câncer de pâncreas
De amanhã até sábado, São Paulo sedia o PANCREAS 2025, primeiro evento global multidisciplinar sobre câncer de pâncreas

Foto: Divulgação
De 18 a 20 de setembro, São Paulo será palco de um marco histórico na oncologia. O PANCREAS 2025: Pancreatic Cancer Research, Education & Assistance Symposium, primeiro evento global multidisciplinar dedicado exclusivamente ao câncer de pâncreas, reunirá mais de 150 especialistas de 11 países para debater avanços que vão do diagnóstico precoce às terapias emergentes, passando por inovação cirúrgica e políticas públicas em saúde. Um dos pontos mais aguardados será o The São Paulo International Consensus on Minimally Invasive Pancreatic Surgery for Cancer, encontro que definirá recomendações internacionais sobre a cirurgia minimamente invasiva para tumores pancreáticos. A pancreatectomia realizada por vídeo (laparoscopia), foi incorporada ao Sistema Único de Saúde em dezembro de 2024 e representa uma transformação no cuidado aos pacientes brasileiros.
A laparoscopia troca incisões abertas de até 60 centímetros por cortes de apenas 1 a 2 cm na parede abdominal, permitindo a retirada do tumor com auxílio de câmera e instrumentos específicos. O método reduz riscos de sangramento, infecções, dores e cicatrizes, diminui o tempo de internação e melhora a qualidade de vida após a cirurgia. Ao lado da cirurgia robótica, a técnica consolida um novo padrão de tratamento que será discutido e aprimorado no consenso de São Paulo.
Um encontro multidisciplinar sem precedentes
Idealizado e presidido pelo cirurgião oncológico Felipe José Fernández Coimbra, o PANCREAS 2025 será realizado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, e pretende conectar ciência, prática clínica e políticas públicas de maneira inédita. Coimbra destaca que o câncer de pâncreas ainda apresenta taxas muito altas de mortalidade e que só uma atuação integrada poderá mudar esse cenário. Para ele, o simpósio representa “um momento histórico para a oncologia e cirurgia HPB, porque conecta ciência, inovação e consenso global em torno do objetivo de transformar a realidade do paciente com câncer de pâncreas”.
Além do simpósio principal, o evento abrigará o XII Congresso Brasileiro de Cirurgia do Fígado, Pâncreas e Vias Biliares, o VI Congresso Latino-Americano de Cirurgia HPB e o The São Paulo International Consensus on Minimally Invasive Surgery for Pancreatic Cancer, compondo um mosaico científico inédito. O consenso reunirá especialistas de referência mundial em cirurgia pancreática para elaborar diretrizes práticas que orientarão cirurgiões no mundo inteiro, em especial no tratamento do adenocarcinoma e dos tumores neuroendócrinos pancreáticos.
Três dias de ciência e inovação
A programação foi desenhada para oferecer conteúdo de ponta em cada um dos três dias, articulando debates clínicos, cirúrgicos, translacionais e de advocacy. No dia 18, durante o consenso internacional, um dos destaques será a sessão sobre implementação, treinamento, custo-efetividade e uso de inteligência artificial aplicada à cirurgia pancreática, explorando como equilibrar inovação tecnológica, capacitação de equipes e sustentabilidade no sistema de saúde.
No dia 19, a abertura oficial do simpósio Pancreatic Cancer Research, Education & Assistance Symposium terá como foco o diagnóstico precoce e a assistência ao paciente. Especialistas discutirão formas de identificar o câncer de pâncreas mais cedo e com maior precisão, explorando fatores de risco, sintomas iniciais, testes moleculares, imagem de alta resolução e recursos como ecoendoscopia e Spyglass. Serão apresentadas propostas de rastreamento populacional, protocolos nacionais de diagnóstico rápido, diretrizes para grupos de risco e novas perspectivas sobre síndromes hereditárias.
Ainda no segundo dia, mesas temáticas discutirão as condutas para lesões císticas pancreáticas e os avanços em tumores neuroendócrinos, trazendo debates sobre condutas cirúrgicas, terapias ablativas endoscópicas e cirurgias conservadoras. No último dia, a programação estará voltada para pesquisa e tratamento multidisciplinar. A mesa de Pesquisa e Inovação discutirá biomarcadores circulantes, uso de tumoróides como nova fronteira terapêutica, cuidados perioperatórios em pancreatectomia total e avanços na imunologia do adenocarcinoma de pâncreas. Também haverá debates sobre terapias combinadas, radioterapia estereotáxica, opções cirúrgicas para doença oligometastática e drogas-alvo para mutações como KRAS e TP53. O encerramento ficará marcado por discussões sobre vacinas terapêuticas, terapias celulares emergentes, avanços em suporte nutricional e perspectivas para os próximos cinco anos no tratamento da doença.
A voz dos pacientes no centro do debate
Um dos momentos mais aguardados do PANCREAS 2025 será a presença de Julie Fleshman, presidenta e CEO da Pancreatic Cancer Action Network (PanCAN), referência mundial na defesa de pacientes com câncer de pâncreas. Sua trajetória é marcada pela experiência pessoal de ter perdido o pai para a doença em 1999 e transformar essa dor em ação. Desde então, liderou a expansão da PanCAN, que hoje conta com mais de 135 colaboradores, investiu mais de 249 milhões de dólares em pesquisa e influenciou diretamente o aumento do financiamento federal norte-americano em câncer de pâncreas. Fleshman também é cofundadora e presidenta da World Pancreatic Cancer Coalition, que reúne mais de 90 organizações em 36 países, e em São Paulo apresentará a palestra “Changing the Game: How Advocacy is Reshaping the Fight Against Pancreatic Cancer — The PanCAN Model”, inspirando médicos, pesquisadores e pacientes a reforçar a importância da voz do advocacy na transformação da realidade da doença.
Panorama global do câncer de pâncreas
O câncer de pâncreas é uma das doenças mais letais da atualidade. De acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da OMS, são diagnosticados anualmente 510 mil novos casos no mundo, com 467 mil mortes, configurando a sexta maior causa de mortalidade por câncer. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que 10.980 brasileiros receberão o diagnóstico em 2025. A maioria dos casos é descoberta em estágios avançados, quando as opções de tratamento são limitadas. Os sintomas iniciais costumam ser inespecíficos, incluindo dor abdominal ou lombar, perda de peso, icterícia, alterações digestivas e fadiga, o que dificulta a detecção precoce. Embora a cirurgia seja a principal chance de controle, apenas uma minoria dos pacientes é candidata ao procedimento no momento do diagnóstico.
Esse panorama reforça a importância do PANCREAS 2025, que busca estimular estratégias de rastreamento, diagnóstico precoce, desenvolvimento de terapias inovadoras e consenso internacional em cirurgia minimamente invasiva, alinhando ciência, prática clínica e a defesa dos pacientes.
Inscrições e serviço
O evento é destinado a profissionais de saúde envolvidos no cuidado interdisciplinar de pacientes com câncer de pâncreas, entre eles cirurgiões, oncologistas, gastroenterologistas, radiologistas, patologistas, geneticistas, nutricionistas e especialistas em cuidados paliativos, além de pesquisadores, estudantes e gestores de saúde. Inscrições: https://cbchpb.com.br/site/pancreas2025/inscricoes.
Serviço
Evento: Pancreas 2025: Pancreatic Cancer Research, Education & Assistance Symposium
Data: 18 a 20 de setembro de 2025
Local: Centro de Convenções Rebouças – Rua Doutor Enéas de Carvalho Aguiar, 23, Cerqueira César, São Paulo – SP