Estado apura racismo, xenofobia e apologia ao nazismo em Valinhos

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A secretaria da Justiça e Cidadania do Estado abriu um expediente de investigação nesta quinta-feira (4) para apurar o caso do adolescente negro de 15 anos que foi vítima de ataques racistas feitos por colegas de escola em Valinhos, e com isso os acusados podem ser multados em até R$ 95 mil.
O caso veio à público na terça-feira (2), e também é investigado pela Polícia Civil. O rapaz foi adicionado por colegas do Colégio Porto Seguro, de Valinhos, em um grupo de Whatsapp após as eleições. No grupo, chamado “Fundação Antipetismo”, foram enviadas várias mensagens e imagens de teor racista, xenofóbico contra nordestinos, e até com referências ao ditador nazista, Adolf Hitler, e também o fascista Benito Mussolini. Foram enviadas mensagens como “Quero que esses nordestinos morram de sede”, outra em defesa da “Reescravização do nordeste”, uma foto de Hitler com a frase “Se ele fez com judeus, eu faço com petista também”, dentre várias outras imagens e stickers com referências nazistas e fascistas.
A mãe do jovem, a advogada Thaís Cremasco, afirma que o filho era o único negro no grupo, e por isso as mensagens seriam para atingi-lo. Ela afirma esperar que os autores das ofensas sejam expulsos da escola, e reeducados. “Eu espero a expulsão daqueles que cometeram o crime, fundamental e educativo, mas também acredito na necessidade que essas crianças sejam reeducadas, elas não podem simplesmente sair da escola perpetuando o ódio”. Ela também cita que alguns colegas demonstraram apoio ao filho dela, mas que há pais que tentam minimizar o caso. “Meu filho tem recebido bastante apoio, mas há uma resistência de alguns pais que entendem que isso é um exagero, que é uma brincadeira de criança e tentam criminalizar a atitude do meu filho”.
Este não é o primeiro problema relacionado a racismo na escola, segundo Thaís. Ela afirma que outros casos envolvendo a filha dela, outra aluna e o próprio rapaz já ocorreram anteriormente. “Minha filha sempre foi a maior vítima da violência, meu filho tinha sido vítima neste ano após tentar defender uma menina que tinha sido chamada de macaca, e isso acabou se voltando contra ele”, conta a advogada.
Segundo a secretaria da Justiça e Cidadania do estado, o número de denúncias de discriminação racial mais que dobrou em relação ao ano passado. Foram 336 denúncias recebidas pela Coordenação de Políticas para População Negra e Indígena até o momento. Em todo o ano passado, foram 155, e em 2020, foram 49.
Ralph Tórtima Filho, advogado de defesa de cinco dos alunos acusados, enviou a seguinte nota sobre o caso:
“Em nenhum momento houve o encaminhamento de mensagem com conteúdo racista a qualquer colega deles. Tal mensagem se deu dentro de outro contexto e foi publicada por um terceiro no grupo de WhatsApp de que participaram dezenas de jovens, de alguns colégios. Inclusive já está sendo realizada perícia forense para evidenciar esse fato. Boa parte do conteúdo do Boletim de Ocorrência registrado é ideologicamente falsa, e a defesa ingressou com medida junto ao Ministério Público evidenciando a distorção dos fatos, bem como a inconsequente, ilícita e irresponsável divulgação de imagens e dados pessoais desses adolescentes, que agora estão sofrendo todo tipo de ameaças”.
Já o Colégio Porto Seguro se manifestou da seguinte forma:
“No presente momento, com as eleições encerradas, pequenos grupos estão se excedendo, infelizmente, em suas manifestações e atitudes, de forma polarizada e muitas vezes conturbada.
Essa atmosfera repercute nos jovens, lamentavelmente, e causa percalços no ambiente escolar. Chegou ao conhecimento do Colégio que, durante a apuração dos votos da eleição no último domingo, um grupo virtual foi criado por adolescentes, do qual participam alunos do Colégio, e foram postadas mensagens desrespeitosas.
Imediatamente, após cientificada, a escola acolheu os alunos que se sentiram ofendidos bem como seus familiares, comprometendo-se a contribuir para a devida averiguação.
*O Colégio repudia qualquer tipo de atitude ou manifestação ofensiva ou discriminatória contra quaisquer pessoas e promove constantes ações pedagógicas, tais como palestras, encontros, mentorias e atividades, que abordam tolerância à diversidade, bem como a questão racial, entre outras posturas não discriminativas, para que os estudantes saibam desde a infância que essas práticas são inadmissíveis*.
Comprometidos em construir uma sociedade livre de preconceitos, sabemos que isso se faz coletivamente. Enfrentar o racismo estrutural e a intolerância à diversidade presentes na sociedade é responsabilidade de todos nós como cidadãos, não apenas da escola.
Pedimos encarecidamente a todas as famílias que acompanhem e monitorem as redes sociais de seus filhos, às quais não temos acesso, que os orientem sobre o devido respeito aos povos de todas as raças, bem como às questões relacionadas à diversidade de gênero, classe, religião, orientação sexual ou política, além de explicar-lhes que certas ações são passíveis de sanções legais.
Também pedimos que esse mesmo exercício da tolerância ocorra entre toda a comunidade escolar e que evitem repassar imagens e informações dos menores de idade. *Estamos realizando a devida apuração dos fatos e tomando as medidas cabíveis dentro do âmbito de nossa competência, de acordo com o regimento escolar*.
Reforçaremos com os alunos o intransigente posicionamento de nossa instituição secular, por meio de orientações específicas a eles, com mais palestras formativas para conscientizar a todos no que se refere ao exercício da tolerância e à cidadania digital.
*A escola é um centro de desenvolvimento da educação e continuará trabalhando incansavelmente para a formação e conscientização de crianças e adolescentes a serviço de um mundo melhor para todos, missão que conta com a participação ativa, vigilante e colaborativa dos pais e responsáveis*.“
* com informações da Rádio CBN Campinas