Economia e sustentabilidade: mercado de itens de segunda mão ganha força no Brasil
Reutilizar virou sinônimo de consciência e economia; Brasil é um dos protagonistas dessa transformação
Foto: iStock/ Konstantin Karpov
O Brasil está aprendendo a olhar para o que já existe com novos olhos. Roupas, móveis, eletrônicos e até carros estão ganhando uma segunda chance, impulsionados por um movimento que une necessidade financeira e preocupação ambiental. Comprar algo usado, que antes era visto como sinônimo de limitação, hoje é uma escolha de quem quer consumir de forma mais inteligente e sustentável.
Segundo dados do setor, mais da metade dos brasileiros já comprou ou vendeu itens usados nos últimos anos. A tendência reflete uma mudança cultural: as pessoas estão mais abertas a reusar e a compartilhar, enxergando valor onde antes viam apenas descarte.
Pilares do mercado de segunda mão
No centro dessa transformação, está o conceito de economia circular. Ele propõe um novo modelo de produção e consumo, em que cada produto tem uma vida útil mais longa e o descarte deixa de ser o ponto final. É como se cada objeto pudesse escrever um novo capítulo, em vez de ter um fim precoce.
Esse comportamento vem crescendo de forma expressiva no Brasil. Segundo o Sebrae, a abertura de novos estabelecimentos de comércio de produtos usados aumentou cerca de 50% entre 2020 e 2021. O movimento combina dois fatores poderosos: o desejo de economizar e a busca por uma relação mais equilibrada com o meio ambiente.
Do ponto de vista econômico, a vantagem é evidente. Comprar um item de segunda mão permite pagar menos e ainda acessar produtos de boa qualidade, muitas vezes pouco usados. Já para o planeta, cada transação representa menos lixo nos aterros, menor gasto de energia e menos recursos naturais extraídos para produzir algo novo.
De brechós a veículos: os setores que mais crescem
A moda é um dos grandes símbolos desse movimento. O Brasil já soma mais de 118 mil brechós, segundo levantamento do Sebrae, e o número segue em alta. As lojas de roupas usadas, antes vistas como alternativas discretas, se tornaram espaços cheios de estilo, criatividade e propósito.
Mas o fenômeno não se limita às araras. O mercado de segunda mão avança também nos setores de eletrônicos, móveis e decoração, em que a revenda tem permitido a milhares de brasileiros gerar renda extra. Em um cenário de custos altos e consumo mais racional, reaproveitar se tornou uma forma de equilíbrio entre o bolso e a responsabilidade ambiental.
Entre os segmentos em expansão, a busca por carros usados merece destaque. Adquirir um veículo seminovo representa uma alternativa mais econômica e sustentável, já que diminui a necessidade de produzir novos automóveis e reduz a emissão de resíduos industriais. Esse comportamento reforça a ideia de que o consumo consciente pode se manifestar em diferentes escalas, do guarda-roupa à garagem.
O futuro da reutilização e a economia circular
O mercado de itens de segunda mão mostra que a sustentabilidade não está apenas nas grandes ações, mas nas escolhas diárias de cada pessoa. Comprar um produto usado é, em essência, uma decisão que une responsabilidade e inteligência financeira.
Conforme projeção do Boston Consulting Group (BCG), esse mercado deve continuar crescendo de 15% a 20% até 2030, impulsionado por consumidores que valorizam mais o uso do que a posse. É uma mudança de mentalidade que redefine o que é novo e o que tem valor.
Reutilizar, revender e reaproveitar se tornaram gestos de consciência coletiva. O Brasil está, pouco a pouco, descobrindo que a economia do futuro pode ser também a arte de dar novas vidas ao que já temos.