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Por Thomas

Conheça a contramão do Rio Tietê

Um rio que desobedeceu a lógica da natureza e virou espelho da contradição brasileira

Por Thomas

O Tietê nasce limpo. Puro. Tímido. Um filete de água cristalina deslizando entre as pedras e bromélias da Serra do Mar, a apenas 22 quilômetros do Oceano Atlântico. Ele poderia, como seria natural, correr direto para o mar. Mas faz o oposto. Dá as costas ao oceano e segue 1.100 km em direção ao interior do estado de São Paulo, até encontrar o Rio Paraná, quase na divisa com Mato Grosso do Sul.

É como se já nascesse sabendo que, no Brasil, o caminho mais curto nem sempre é o que se escolhe.

Uma contradição natural explicada pela geografia

Apesar de nascer próximo ao mar, o Tietê corre para o interior por causa de uma peculiaridade do relevo da Serra do Mar.
Essa formação montanhosa funciona como uma barreira natural, elevando o terreno na direção do litoral. O ponto exato de onde brota o rio está acima do nível da serra, o que faz com que as águas escoem para o outro lado — em direção ao planalto.

Curiosidade técnica: O Tietê nasce a 1.030 metros de altitude, enquanto a encosta da serra do lado do mar desce abruptamente. Como a água sempre desce, mas encontra ali uma subida antes do mar, ela "escolhe" o caminho mais fácil — rumo ao oeste.

Do berço ao caos: um retrato do Brasil

O Tietê percorre 62 municípios e cruza a cidade de São Paulo, onde sofre sua pior agressão.
Ali, ele deixa de ser um rio — e vira um símbolo. Um espelho turvo do que o desenvolvimento urbano descontrolado é capaz de fazer com a natureza.

- Mais de 1,2 bilhão de litros de esgoto são lançados por dia na bacia do Tietê.
- Ele corta a capital paulista com um cheiro ácido, fétido e espesso — um luto líquido.
- Projetos de despoluição já consumiram bilhões de reais desde os anos 1990, mas os resultados ainda são tímidos e descontínuos.

Um rio que já foi vida, lazer e rota de viagem

No século XIX, o Tietê era navegado por barcos que cruzavam o estado. Foi caminho de bandeirantes e abrigo de comunidades ribeirinhas.
Seus trechos em Barra Bonita, Buritama e Anhembi ainda mantêm essa memória viva: o rio volta a ser navegável, limpo, respeitado.

Em Barra Bonita, por exemplo, o turismo fluvial movimenta a economia, e o rio recebe cruzeiros de pequeno porte. Lá, o Tietê é um outro. Quase irreconhecível.

O que o Tietê nos ensina?

O Tietê é mais do que um rio ao contrário.
Ele é metáfora do Brasil: nasce promissor, mas é violentado ao longo do caminho. E ainda assim, resiste.
Ele prova que a destruição não é inevitável, que a natureza insiste, e que nossa responsabilidade com ela vai além da coleta seletiva ou de hashtags verdes.

Enquanto alguns acham normal que um rio “mude de cor”, o Tietê grita em silêncio todos os dias — pedindo socorro.

Ao contrário do que diz o senso comum, nem todo rio vai para o mar.
O Tietê vai na direção oposta. E isso não é um erro da natureza — é uma lição sobre relevo, escolhas e consequências.

Mas se quisermos que ele volte a ser o rio de onde brota vida — e não o símbolo da sujeira — teremos que aprender a nadar contra a corrente também.

Conheça a contramão do Rio Tietê

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