Cirurgia com tecnologia eletrônica permite o alongamento de ossos da perna em até 8 cm
O procedimento realizado em Campinas inova o tratamento de deformidades ósseas e também pode ser utilizado para fins estéticos de crescimento

Foto: Divulgação - foto fornecida pela Clínica Avançada Ortobone
Sem qualquer ação mecânica, utilizando apenas tecnologia eletrônica, um novo procedimento cirúrgico permite o alongamento de ossos - fêmur e tíbia –tanto para a correção de deformidades ósseas quanto para fins estéticos de crescimento, como nos casos de nanismo. O cirurgião ortopédico e traumatologista Everson de Oliveira Giriboni, de Campinas (SP), explica que, ao contrário dos métodos convencionais que exigem manipulação manual e geram mais dor ao paciente, esse novo sistema automatizado é muito mais confortável e permite um controle mais preciso, além de reduzir os riscos.
A tecnologia consiste na implantação de uma haste telescópica intramedular (FITBONE™), colocada dentro do osso por meio de uma pequena incisão de 2 a 3 centímetros. Essa haste, que se assemelha a uma antena, é controlada externamente por um dispositivo que emite sinais. O crescimento ósseo é de até 1 milímetro por dia, totalizando um alongamento de até 8 centímetros ao fim do tratamento. Uma paciente de 46 anos, de Belém do Pará, realizou em Campinas, neste mês, essa tecnologia para a correção de uma deformidade. O procedimento foi realizado pelo Dr. Everson Giriboni no Hospital Centro Médico Campinas.
Sobre o procedimento
A técnica, desenvolvida desde 1997, foi aplicada em mais de 2.000 pacientes na Europa. Em abril, o especialista dinamarquês Jan-Duedal Rölfing, cirurgião ortopédico e especialista internacional na técnica, esteve em Campinas, na Clínica Avançada Ortobone, para acompanhar o planejamento e discutir os detalhes desta cirurgia com o médico brasileiro. “A realização deste procedimento no Brasil com essa tecnologia marca o início de uma nova era no tratamento ortopédico de alongamento ósseo. A combinação de precisão, segurança e conforto ao paciente representa um salto tecnológico que se propõe, com responsabilidade médica, a melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, seja para corrigir deformidades funcionais ou mesmo para fins estéticos,”, explica do médico Everson de Oliveira Giriboni.
Como funciona o alongamento ósseo
O paciente não tem acesso direto à haste: o estímulo é aplicado externamente por um pequeno aparelho controlador, que deve ser usado conforme orientação médica. O avanço da haste e o crescimento do osso são monitorados rigorosamente por radiografias semanais.Além do osso, estruturas adjacentes, como vasos sanguíneos, músculos, tendões e nervos também se adaptam ao processo de alongamento. Após o tratamento, o paciente pode retornar gradualmente às atividades físicas, sob orientação médica, com expectativa de recuperação mais rápida que os outros métodos. “Trata-se do alongamento de membros, tanto do fêmur quanto da tíbia. Ele pode ser feito de forma retrógrada ou anterógrada (que se move ou se estende para a frente), conforme orientação do médico-cirurgião. Desta forma, é possível fazer o osso crescer ao separá-lo gradualmente com uma determinada pressão e em intervalos específicos — no caso, um milímetro por dia. Esse processo é feito em casa com um dispositivo que é colocado sobre a pele e que realiza o alongamento com seis impulsos, até três vezes por dia. Durante esse processo, o pino, que funciona como uma antena, se estende até um milímetro por dia, separando gradualmente as extremidades do osso até que ele se regenere completamente” explica o Dr. Everson Giriboni.
O especialista dinamarquês, Jan-Duedal Rölfing, destaca que, para que isso ocorra de forma segura, há instrumentos adequados que os cirurgiões utilizam durante a cirurgia, como um sistema de tubos que protege o osso e a cartilagem contra qualquer dano. Por meio desses acessos, o pino é introduzido dentro do osso e do canal medular. “A haste ficará dentro do osso, fixada com um parafuso na parte superior e dois na parte inferior. O receptor fica sob a pele, e a única coisa que o paciente precisa fazer em casa é posicionar o aparelho sobre a perna, no local marcado, onde está o receptor subcutâneo. Basta posicionar, apertar o botão e aguardar os impulsos. Com essa técnica, é possível crescer 1 milímetro de osso por dia, o que equivale a 3 centímetros em um mês”, destaca. O tratamento se divide em quatro fases: cirurgia, distração (alongamento diário), consolidação (fortalecimento do osso regenerado) e remodelação. A haste deve ser removida entre 12 e 18 meses após o implante, quando o novo osso já é capaz de sustentar o peso do corpo de forma natural.
Aplicações clínicas e estéticas
Originalmente desenvolvida para tratar deformidades congênitas, sequelas de fraturas, infecções e tumores que provocam encurtamento dos membros, a técnica também vem sendo adotada em procedimentos de alongamento estético. A nova tecnologia representa um avanço importante em relação ao antigo método de alongamento, que exigia rotações manuais diárias do membro com auxílio de fisioterapeutas, muitas vezes gerando dor intensa. A cirurgia requer preparação cuidadosa, incluindo exames radiológicos, avaliação da densidade óssea e planejamento milimétrico do local da osteotomia (corte ósseo). O procedimento é baseado nos princípios desenvolvidos pelo professor Rainer Baumgart, referência em traumatologia e engenharia biomédica.