Agosto Branco: Cerca de 25% das mortes por câncer no mundo são decorrentes do câncer de pulmão
Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão é celebrado em 1º de agosto

Foto: Divulgação
O Dia Mundial do Combate ao Câncer de Pulmão, celebrado em 1º de agosto, abre um mês de campanha destinada a orientar e conscientizar sobre o tipo mais letal da doença. Cerca de 25% das mortes por câncer no mundo são decorrentes do pulmão, de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, da Organização Mundial da Saúde. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam para quase 30 mil mortes a cada ano no Brasil – mais de 90% dos diagnósticos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ocorrem em estágios avançados.
A campanha Agosto Branco destaca a alta letalidade da doença e também seu principal fator de risco, o tabagismo. O oncologista Fernando Medina, do Centro de Oncologia Campinas, lista alguns dos principais riscos associados ao vício do cigarro. Segundo Medina, o tabagismo é responsável por 80-90% dos casos de câncer de pulmão.
“Fumantes têm de 15 a 30 vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão do que não fumantes. A fumaça do cigarro contém pelo menos 70 substâncias cancerígenas conhecidas. Estudos apontam que o risco para o câncer do pulmão aumenta 20% a cada 5 anos de tabagismo”, lista o especialista. “Fumantes pesados, que consomem mais de 20 cigarros ao dia por mais de15 anos, têm risco 4,55 vezes maior que fumantes leves”, acrescenta.
Outro dado importante fornecido pelo oncologista é que parar de fumar pode reduzir o risco para o câncer de pulmão em 30% a 50% após 10 anos de cessação do vício. “Embora outros fatores possam contribuir, o tabagismo permanece como a causa predominante de câncer de pulmão, reforçando a importância da cessação do tabagismo na prevenção”, acrescenta.
No Brasil, de acordo com levantamento do INCA, o câncer de pulmão é o segundo tipo mais comum. São mais de 44 mil diagnósticos a cada ano, diante mais de 38 mil óbitos, o que comprova a alta letalidade da doença. É o segundo tipo de câncer mais comum em homens e o quarto em mulheres.
Rastreamento
Tosse persistente, fadiga, rouquidão e perda de peso são sinais de alerta para vários tipos de doença, incluindo o câncer de pulmão. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, apenas 16% dos cânceres de pulmão são diagnosticados em estágio inicial (sem metástase), para o qual a taxa de sobrevida de cinco anos é de 56%. Nos demais estágios, a sobrevida média em cinco anos cai para 18% (15% para homens e 21% para mulheres).
No Brasil, o INCA estima 32,5 mil novos casos por ano da doença para o triênio de 2023 a 2025, o que representa um risco de 15 casos a cada grupo de100 mil habitantes. Destes, quase 30 mil resultarão em óbito.
A alta letalidade do câncer de pulmão se deve ao diagnóstico tardio da doença. Medina explica que o rastreamento é um tema importante na medicina preventiva e que contribui com a melhora de prognósticos.
Segundo ele, devem realizar exames preventivos adultos de 50 a 80 anos, com histórico de tabagismo de pelo menos 20 maços ao ano e que atualmente fumam ou pararam de fumar nos últimos 15 anos.
“O método de rastreamento mais indicado é a tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD) anual”, aconselha. “O benefício do rastreamento está associado a uma redução na mortalidade por câncer de pulmão”.
Tipos
O câncer de pulmão não pequenas células- (CPNPC)- representa quase 85% de todos os casos. Dentro desses, cerca de 25 a 30% são diagnosticados no estágio III. O primeiro estágio é um câncer localizado (apenas 16% dos diagnósticos ocorrem nesta fase). No segundo estágio, o câncer se espalhou para os nódulos linfáticos próximos, e o quarto representa metástase para regiões distantes do corpo.
“No estágio III, o tumor já se espalhou para os nódulos linfáticos locais ou tecidos próximos ao pulmão, mas não para partes distantes do corpo. É inoperável quando o tumor está muito próximo de estruturas vitais ou espalhou-se demais localmente, inviabilizando a retirada cirúrgica”, esclarece Fernando Medina.
Como não é possível a retirada cirúrgica do tumor, prossegue o médico, o tratamento padrão é a quimioterapia e radioterapia combinadas. “A quimioterapia ajuda a destruir células cancerígenas que podem ter se espalhado pelo corpo, enquanto a radioterapia é direcionada à área do tórax para destruir o tumor localmente”, informa.
O prognóstico do estágio III inoperável é mais reservado do que quando há possibilidade de cirurgia. A taxa de sobrevida em cinco anos é baixa, fica em torno de 15%. “Porém, os tratamentos atuais de rádio e quimioterapia estão melhorando o controle da doença e a sobrevida”, assegura.
“Apesar de desafiador, o tratamento combinado ainda pode oferecer chances de controle do câncer de pulmão não pequenas células estágio III inoperável. O acompanhamento multidisciplinar é essencial para maximizar os resultados”, informa.
Já o câncer de pequenas células de pulmão (CPCP) representa menos de 20% dos casos. É o mais agressivo de todos os tumores malignos de pulmão e em mais de 60% dos casos, o paciente já se apresenta com doença avançada ao diagnóstico. Dessa forma, os prognósticos são pessimistas. A média de sobrevida dos casos avançados é de apenas três meses. Esse tipo de neoplasia tende a se disseminar precocemente.
Parar de fumar
A principal orientação do especialista, contudo, é para que fumantes atuais recebam aconselhamento para parar de fumar e sejam conectados a recursos de cessação. “Parar de fumar pode reduzir o risco de câncer de pulmão em 30 a 50% após 10 anos”, observa.
O percentual total de fumantes a partir dos 18 anos de idade no Brasil é de 9,5%, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Os homens respondem por 11,7% do total e as mulheres, por 7,6 %.
O alcatrão deixa um rastro de problemas por todo o caminho que percorre no corpo humano e não apenas no pulmão, diz Medina. Laringe, faringe, boca, esôfago, pâncreas, fígado e bexiga são os principais órgãos afetados pelo tabaco. “São todas as áreas onde a fumaça do cigarro ‘toca’.
O vício do cigarro, lembra o oncologista, é tão nocivo quanto difícil de abandonar. “Vemos garotos de 12, 13 anos, experimentando cigarro. Mesmo passando mal, eles continuam e levam esse mau hábito para o resto da vida”, compara, afirmando que a conscientização sobre os malefícios tem de começar ainda na infância. “Educar é a melhor forma de prevenir o surgimento de novos fumantes”, garante.