O futuro ainda cabe nas mãos pequenas
Coluna Papo Verde com Dani Fumachi

Há uma frase que venho ouvindo com frequência: “As crianças de hoje já nascem conscientes.”
É bonita, conforta, mas é uma meia verdade. Elas nascem conectadas, isso sim, com o mundo e com a crise. Aprendem cedo sobre queimadas, derretimento de geleiras e extinção de espécies. O problema é que o que chamamos de “consciência ambiental” tem sido, muitas vezes, uma educação pelo medo.
Em casa, ouvem que o planeta está acabando. Na televisão, veem o noticiário mostrar rios mortos, florestas derrubadas, cidades debaixo d’água. E nas escolas, quando se fala de meio ambiente, o assunto costuma se restringir a datas comemorativas e cartazes coloridos.
Enquanto isso, cresce uma geração que sabe o que é o aquecimento global, mas não sabe plantar uma semente.
O Brasil não tem, até hoje, uma grade curricular obrigatória de educação ambiental. A Lei nº 9.795, de 1999, até institui a Política Nacional de Educação Ambiental, mas sua aplicação depende da boa vontade de estados e municípios. Na prática, fica como um tema transversal, ou seja, aparece quando o professor quer, quando há tempo, ou quando o calendário marca o “Dia da Árvore”.
O resultado é o mesmo: nossas crianças aprendem a ler, a resolver equações e a conjugar verbos, mas não aprendem a recolher o próprio lixo, a entender o ciclo da água, ou a perceber que uma folha em decomposição é parte de um sistema maior.
E não por falta de interesse delas, mas por omissão de nós, adultos, que tratamos a ecologia como um anexo, não como uma base da vida.
Educar para o meio ambiente não é apenas ensinar sobre reciclagem. É formar pensamento ecológico, aquele que entende interdependência e empatia. Uma criança que aprende desde cedo que o alimento vem da terra e não da prateleira do mercado, cresce com outro tipo de consciência, mais conectada, mais ética, menos descartável.
A Finlândia, por exemplo, integra a sustentabilidade em todas as disciplinas. Matemática é ensinada com exemplos de economia de energia; ciências, com experimentos sobre captação de chuva; arte, com materiais reciclados. Não há um “tema ambiental”, há um olhar ambiental sobre tudo.
E isso faz diferença. Segundo dados da UNESCO, países que incorporaram a educação ambiental formalmente nas escolas registraram aumento de até 38% na adoção de hábitos sustentáveis por parte dos jovens. No Brasil, onde o tema é periférico, ainda é comum ver escolas que jogam fora o papel reciclado de campanhas ecológicas no mesmo lixo das merendas.
Mas o ponto central não é só técnico, é emocional.
Quando uma criança cresce achando que o planeta está condenado, ela desiste antes de começar. Quando ela vê que há soluções, que há florestas se regenerando, que há gente recuperando nascentes, ela entende que ainda há espaço para agir. Esperança, nesse contexto, é combustível, não ilusão.
O psicólogo ambiental Stephen Sterling já dizia que “a educação ambiental não deve ser uma mensagem de luto, mas um convite à responsabilidade amorosa.” E é justamente isso o que falta: amor aplicado ao currículo, não apenas nas falas bonitas de projetos pontuais que os municípios realizam de seis em seis meses.
Se quisermos de fato preparar uma geração capaz de enfrentar o colapso climático, a ecologia precisa deixar de ser um assunto de datas comemorativas e virar um idioma obrigatório, tão essencial quanto português e matemática.
Porque de nada adianta saber ler se não se compreende o que o mundo escreve nas folhas das árvores.
Ensinar uma criança a cuidar da terra é ensiná-la a cuidar de si. É devolver a ela o direito de acreditar que o amanhã ainda é um lugar possível.
E é por isso que, antes de salvar o planeta, precisamos salvá-las da desesperança.