Dakar: o lado feminino do maior desafio do mundo
51 competidoras estão inscritas na 45ª edição da prova. Incluindo a primeira piloto do Brasil
Foto: Vinícius Branca/Fotop
Em 2023, a imprensa brasileira marca presença na 45ª edição do Rally Dakar somente com a repórter Letícia Datena. Não há outros jornalistas do país acompanhando a prova, que reúne no total competidores de 68 nacionalidades na Arábia Saudita. Curiosa e apaixonada pelo esporte, Letícia deu de cara com uma realidade que não esperava: a forte presença feminina no maior desafio do mundo, que vem sendo disputado desde o dia 31 de dezembro nos desertos daquela região do Oriente Médio.
“Ao todo, são 51 atletas espalhadas em seis categorias. Eu acho sensacional que cada vez mais mulheres estejam se aventurando na versão mais radical de um esporte extremamente físico, como é o rally cross-country. Pilotos e navegadores correm em média 400km por dia em pleno deserto, escalando dunas de até 300m. Terminam o dia literalmente moídos. Além de estar bem preparado, é preciso ter coragem. E isso nós, mulheres, temos de sobra”, diz a filha do apresentador José Luis Datena.
“O Dakar vai cruzar uns 8.500km até o final da corrida, no dia 15 de janeiro. Nós já andamos cerca de 70% disso. É uma prova que judia da gente, precisa realmente amar velocidade para correr um Dakar. E as mulheres adoram esse desafio. Ter 51 delas aqui me diz que estamos chegando com força, o rally já é nosso território também”, conclui a repórter, que faz a cobertura do evento pela TV Band e revista Forbes.
Elas estão em todas – As mulheres, na verdade, já registraram grandes momentos na trajetória do Dakar – o que chama a atenção agora é a quantidade e a disposição de brigar de igual para igual com os marmanjos de todas as categorias. Mas, já em 2001, a alemã Jutta Kleinschimidt mostrou o caminho vencendo a prova na categoria principal, a dos carros, ao lado do navegador e conterrâneo Andreas Schulz.
“Aqui, todo mundo sabe que as mulheres vieram pra ganhar. Como é o caso dos homens, algumas possuem currículos fantásticos no rally e outras estão em evolução. Mas de maneira geral elas estão aqui para conquistar o título máximo do nosso esporte, que é vencer essa prova”, diz o brasileiro Lucas Moraes, que vem sendo a principal revelação do Dakar 2023. “Todos os dias, no Dakar, temos provas de que talento não tem sexo, idade ou cor de pele. Essa é uma das magias dessa competição”, completa ele.
A brasileira do Dakar – Em 2023, a catarinense Pâmela Bozzano, de 33 anos, se tornou a primeira mulher do Brasil a competir no Dakar como piloto. A bordo de um Can-Am Maverick X3 da categoria Protótipos Leves, ela cruza os desertos da Arábia ao lado do navegador Carlos Sachs. Ex-atleta de marcha atlética, Pâmela iniciou no rally por brincadeira em 2020, influenciada pelo marido, Ênio Bozzano.
“Meu esposo me perguntou se não queria ser navegadora dele. Eu gostei da ideia, mas logo percebi que queria acelerar, frear... pilotar mesmo. Ele gostou da ideia, me incentivou e arrumou um carro pra testar. Tempos depois fomos para o Jalapão, um deserto no Tocantins, disputar minha primeira corrida”, conta ela.
Pâmela levou a sério o convite, se destacou e conquistou bons resultados. Em 2022, venceu o Rally RN1500, um dos mais tradicionais do país, e também o Rally Jalapão, ambos na subcategoria de UTVs na qual competiu. Mas a maior conquista foi a vitória na classe UTV3 do Rally dos Sertões – e com Ênio na função de navegador. Na Argentina, Pâmela ainda foi segunda colocada no competitivo SARR (South American Rally Race) e quinta na classificação geral dos UTVs.
Mas a primeira brasileira a competir no Dakar foi a jornalista Leilane Neubarth, que em 1999 foi a navegadora na tripulação do caminhão conduzido por André Azevedo, ao lado do mecânico tcheco Tomas Tomecek. O trio obteve duas vitórias em especiais e chegou ao terceiro lugar na categoria caminhões do Dakar daquela temporada.
Entre as 51 mulheres inscritas no Dakar, a maior delegação é da França com 12 representantes. Na atual edição, as principais estrelas são as espanholas Cristina Gutierrez, que se tornou a primeira mulher a vencer uma especial no Dakar desde Kleinschmidt, e Laia Sanz, que é dona do melhor resultado de uma mulher nas motos no Dakar, um nono lugar em 2015. Gutierrez foi terceira colocada entre os UTVs no ano passado.
As duas correm paralelamente no Extreme E, competição de rally de carros elétricos no qual as equipes são divididas com um piloto masculino e outro feminino. Gutierrez tem feito bonito: é a campeã de 2022 da Extreme E, ao lado do lendário francês Sebastien Loeb. Ambos competiram pelo time de Lewis Hamilton, o X44.
51 Mulheres no Dakar 2023
Motos: Mirjam Pol (Holanda), Sandra Gomez Cantero (Espanha), Kristen Landman (África do Sul)
Carros (Pilotos): Laia Sanz (Espanha), Andrea Lafarja (Paraguai), Magdalena Zajak (Polônia)
Carros (Navegadoras): Monica Plaza Vazquez (Espanha), Valerie Panagiotis (França), Tessa Rooth (Holanda)
Protótipos Leves (Pilotos): Cristina Gutierrez (Espanha), Annett Fischer (Alemanha), Camelia Liparoti (Itália), Dania Akeel (Arábia Saudita), Mashael Alobaidan (Arábia Saudita), Merce Martin (Espanha), Anja Van Loon (Holanda), Aliyyah Koloc (Emirados Árabes Unidos), Pâmela Bozzano (Brasil), Patricia Pita Gago (Uruguai)
Protótipos Leves (Navegadoras): Annie Seel (Suécia), Lisette Bakker (Holanda), Delphine Delfino (França)
Caminhões (Navegadoras): Marije van Ettekoven (Holanda), Margot Llobera (Andorra), Susana Hernando Ines (Espanha), Syndiely Wade (Senegal)
UTVs de Produção (Pilotos): Molly Taylor (Austrália) e Rebecca Busi (Itália)
UTVs de Produção (Navegadoras): Valentina Pertegarini (Argentina), Rosa Romero Font (Espanha), Giulia Maroni (Itália)
Clássicos (Pilotos): Valentina Casella (Itália), Olga Rouckova (República Tcheca), Sandra Riviere (França)
Clássicos (Navegadoras): Anne Galpin (França), Mercedes Montamarta (Espanha), Julie Verdaguer (França), Monica Buonamano (Itália), Jacobine Kamp-Noordsij (Holanda), Corinne Berteloot (França), Audrey Rossat (França), Faiza Maillard (França), Magali Barlerin Simonot (França), Claire Deygas (França), Corinne Cupers (França), Sonia Ledesma Gomez (Espanha), Alexia Giugni (Itália), Lidia Ruba (Espanha), Simona Morosi (Itália), Marie-Noelle Malsergent (França) e Andrea Cadei (Itália)
Veículos conduzidos por tripulações 100% femininas
Motos: Mirjam Pol (Holanda), Sandra Gomez Cantero (Espanha), Kristen Landman (África do Sul)
Protótipos Leves: Annett Fischer (Alemanha)/Annie Seel (Suécia) e Merce Martin (Espanha)/Lisette Bakker (Holanda)
UTVs de Produção: Rebecca Busi (Itália)/Giulia Maroni (Itália)
Clássicos: Valentina Casella (Itália)/Monica Buonamano (Itália)