Consciência Negra: exposição “A Família Cezarino e a Educação em Campinas” traz contribuição inédita
Casal de negros educadores, mesmo em uma sociedade escravocrata do século 19, foi responsável pela fundação do Colégio Perseverança, de educação para meninas da elite campineira
Foto: Divulgação
Para quem desconhece, a Família Cezarino, que empresta o nome para uma rua em Campinas, deu uma grande contribuição para a Educação campineira e para o cenário nacional. Formada por pessoas pretas, eles despontavam em uma época em que a cidade ainda mantinha uma relação de trabalho escravista. Essa história está sendo contada na exposição virtual “A Família Cezarino e a Educação em Campinas”, oferecida pelo Centro de Memória da Educação Básica de Campinas (CMEC).
Durante a visita à exposição, acessível em https://www.artsteps.com/view/6509a937c4de11d6f3b573c5, o público conhecerá, por meio de fotos, a trajetória do casal Antônio Ferreira Cezarino e Balbina Gomes da Graça Cezarino, e também de seus filhos, que deixaram um importante legado. Os Cezarinos foram responsáveis pela fundação do Colégio Perseverança, em Campinas, no século XIX.
A escola figurava entre as duas existentes no país que tinha as portas abertas para mulheres da elite campineira. "É uma história inusitada. Durante o século 19, no período em que vigorava no Brasil a mão de obra escrava, um casal de negros funda um colégio para educar as meninas", afirma André Luiz Bertolai, coordenador do Centro de Memória da Educação Básica de Campinas (CMEC).
O Colégio Perseverança chamava atenção. Uma das visitas ilustres que ele recebeu na época foi a do imperador Dom Pedro II, que inclusive, registrou em seu diário a sua passagem por Campinas.
A curadoria da construção expográfica, que envolve a escolha das obras e do percurso da exposição, foi feita pela professora de Artes da rede municipal, Mariana de Paula Motta, que é uma das integrantes da equipe do CMEC.
Memória e educação
A exposição pode ser acessada em qualquer lugar do Brasil e por quem quiser vê-la. Em relação às escolas, é um conteúdo que pode ser trabalhado pelos diversos componentes curriculares. No final da exposição, há uma sala de jogos, que é uma forma divertida de reforçar o conteúdo.
“As obras e as informações da exposição foram pensadas como material pedagógico de apoio para a sala de aula”, informa o coordenador do CMEC. Além da exposição, há um catálogo informativo sobre a família que é mais uma ferramenta que pode ser usada em sala de aula.
A exposição “Família Cezarino e a Educação em Campinas” pode ser acessada por meio do link https://www.artsteps.com/view/6509a937c4de11d6f3b573c5.
Os Cezarinos
Mineiro, da cidade de Paracatu do Príncipe, Antônio Ferreira Cezarino era órfão de mãe. Foi criado e alfabetizado por uma tia paterna. O pai era tropeiro e só veio conhecer o filho quando o menino tinha 11 anos. Tanto pai, quanto filho, eram negros e livres, em um período em que a escravização de mão de obra acontecia.
Em 1814, já alfabetizado, Cezarino mudou-se com o seu pai para a Vila de São Carlos, hoje Campinas. Trabalhou em fazendas locais, onde se destacava em suas funções. Continuou os estudos. Seis anos mais tarde, casou-se com Balbina e já não trabalhava mais em fazendas. Com o dinheiro que acumulou com os novos trabalhos , que iam de mascate passando por carpinteiro, alfaiate e músico, conseguiu abrir o Colégio Perseverança, em 1860.
O Colégio tinha como professoras e gestoras, quatro filhas do casal, de um total de 11 que tiveram. Cezarino faleceu em 1892, endividado.