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Por Marcio

Caminho da Fé – parte 3: Trezentos e dezoito quilômetros que te levam à Aparecida

Por Marcio

Foto: Arquivo Pessoal

Por Márcio Egidio

O dia 16 de outubro amanhecia com prenúncio de calor e céu azul. Por volta das 6h nosso grupo se despedia do pessoal da Pousada Santa Catarina com um fraterno abraço no casal formado pela dona Sônia e seu Zacarias, que tão bem recebeu nosso grupo. O destino agora seria trilhar os quase 25 quilômetros que nos separava da próxima pousada, lá em Inconfidentes.

Quem já fez o Caminho sabe que esse trecho é bem mais tranquilo com relação aos dois primeiros dias. As subidas e descidas parecem entenderem que os peregrinos precisam de um breve “alívio” já que ainda faltam muitos quilômetros e passos a serem percorridos.

Depois de deixarmos o Bairro do Taguá, a próxima localidade antes de chegarmos à área urbana de Ouro Fino seria a passagem por Crisólia, após cerca de nove quilômetros de caminhada. Lá aproveitamos para repor os suprimentos, comprando água, repositor energético e gelo suficientes para encher nossas duas caixas térmicas, além de conhecermos a Igreja de Nossa Senhora da Piedade que, desta vez, encontrava-se aberta aos devotos.

Pé no trecho e seguimos rumo à Ouro Fino, a cerca de seis ou sete quilômetros de onde estávamos, já descansados da primeira etapa. Como o percurso é bem mais tranquilo e com o pessoal mais familiarizado com a nova rotina (acordar, andar, descansar, alimentar-se e dormir), o ritmo ganhou mais força onde os quilômetros foram baixando com mais facilidade.

MENINO DA PORTEIRA

Caminho da Fé – parte 3:  Trezentos e dezoito quilômetros que te levam à Aparecida

Cerca de quinze quilômetros andados e por volta das 10h30, os Romeiros de Maria chegavam a imponente imagem do Menino da Porteira localizado já em área urbana da cidade. Não tem como passarmos despercebidos pela estátua que, além de gigante, ainda tem toda uma simbologia nacional perpetuada pela música cantada nos quatro cantos do País. “Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava a figura de um menino, que corria abrir a porteira depois ia me pedindo, toca o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo...”

No local existe toda uma estrutura para receber turistas de todos os cantos do Brasil e todos os peregrinos do Caminho da Fé que almejam chegar ao Santuário, com banheiro, alimentação e claro, carimbo para nossa credencial.

Descansamos um bom tempo por ali e aproveitamos para registrar tudo com fotos e filmagens. Logo em seguida, rumamos para a área central da cidade, mais precisamente no Santuário de São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima, padroeiros da cidade.

Antes, também passamos por outro grande monumento, do “Boi Sem Coração”, outro imponente registro com o grande animal observando o menino sentado sobre a porteira, também alusivo à música.

Fundada em 8 de março de 1749, hoje com 276 anos, o Santuário é um verdadeiro monumento arquitetônico tanto para a época quanto para os dias atuais sendo, na minha humilde opinião, uma das mais belas entre tantas igrejas, paróquias e capelas encontradas e visitadas ao longo do Caminho.

Depois de visita-lo e lá deixarmos nossos pedidos e agradecimentos em orações, fomos até a Casa Paroquial para carimbarmos as credenciais e já debaixo de um sol escaldante do início da tarde, seguimos em direção a estrada que nos levaria até a cidade de Inconfidentes, nosso ponto final do dia.

Assim como ocorre praticamente em todo país, o progresso também se faz necessário na região sul do Estado de Minas Gerais. Esse trecho que passamos a seguir antes, tão arborizado e fresco, desta vez passava por grandes transformações como alargamento de seu leito carroçável e supressão de inúmeras grandes árvores.

Da forma que encontramos a região, tudo leva a crer que, num breve espaço de tempo, a estrada deverá receber capa asfáltica o que é bom aos moradores da região e das duas cidades, mas não tão bom aos peregrinos por conta do aumento do trânsito e da velocidade dos veículos no local.

SANTOS NEGROS

O trecho entre as cidades de Ouro Fino e Inconfidentes, por enquanto de chão batido, desde 2009 leva a interessante denominação de “Estrada dos Santos Negros” e, claro, não poderíamos após voltarmos, pesquisar um pouco sobre o assunto para repassar aos queridos leitores.

A data da denominação da estrada não poderia ser melhor e mais alusiva, sendo inaugurada no 13 de maio de 2009, fazendo parte dos festejos do Dia da Abolição da Escravatura no Brasil.

Durante o trecho, o peregrino avista várias imagens de santos homenageados, entre eles, Santa Ifigênia (filha do Rei da Etiópia, provavelmente a primeira santa africana, ela é conhecida como protetora das moradias e contra os incêndios); São Benedito (famoso santo do Sul da Itália, Norte da África ou Etiópia, conhecido como "São Benedito, o Negro" ou "São Benedito, o Mouro") e a de Santa Bakhita (Josefina, italiana de origem sudanesa, recebeu os apelidos "Bakhita" - que significa em idioma africano, "afortunada", "sortuda" ou "bem-aventurada" e "La Madre Moretta" (Madre Morena).

Deixamos a Estrada dos Santos Negros para trás, e antes de chegarmos a área urbana de Inconfidentes, uma última parada, na Capela de São Judas Tadeu, muito bem cuidada, com uma área de descanso e locais específicos para fotografia, que nos conquistou para uma parada mais demorada.

Voltando a caminhar, poucos passos à frente, o Monumento ao Peregrino nos dava as boas-vindas à pequena e aconchegante cidade de Inconfidentes, a Capital Nacional do Crochê sendo uma das maiores produtoras de crochê, malhas, fios, fibras e tapetes do Sul de Minas Gerais, além de ter vários outros tipos de comércio, como o artesanato e artigos para decoração, tornando-a, assim, referência para o turismo de compra.

A alusão ao crochê está em toda área central, inclusive, “vestindo” as árvores da principal avenida, a Alvarenga Peixoto. Lá também encontramos outra referência do Caminho, mais que isso, nada menos que um dos fundadores dessa peregrinação, o senhor Mauro Lourenço Cavenaghi, comerciante e proprietário do famosíssimo Bar do Maurão, especialista nos torresmos, no gostoso pastel fabricado com farinha de milho e também da venda da cerveja artesanal Peregrina, produzida e engarrafada em pequena escala naquela região.

Se a cidade não é tão grande, composta por quase oito mil habitantes, Inconfidentes é gigante no tocante aos caminhos de peregrinação. Por lá passa a maioria deles e parece que a cidade e o povo inconfidentino especializou-se em recepcionar romeiros e peregrinos que por lá passam todos os dias, o ano todo.

Além do Caminho da Fé, a cidade é passagem como também ponto de início ou conclusão de vários outros como Caminho da Prece, das Capelas, das Graças e Prosas e da Nhá Chica e, com isso, recebe visitantes diariamente.

Chegamos no dia 16 de outubro e a comunidade estava animadíssima e festiva, afinal, era dia de São Geraldo Magela, padroeiro da cidade. Nossa hospedagem estava reservada na Pousada Santa Varanda, atualmente muito bem administrada pela amiga Tábata Pereira e fundada pela dona Selma, sua mãe e, para nossa sorte, com a porta de entrada praticamente defronte as barracas montadas para a festa que teria início à noite, logo após a Missa de Ação de Graças, na Igreja Matriz de São Geraldo.

Devidamente instalados e de banho tomado, nossa trupe foi a procura de um local par comermos algo antes das festividades e encontramos uma bela pizzaria que também servia jantar à la carte com preços bem acessíveis e lá juntamos o útil ao agradável defronte a área da festa.

Após a refeição uma breve passada entre as barracas, mas, só pra olharmos mesmo já que o cansaço batia mais forte a principal necessidade era a de descanso e não do agito, do “fuá”; Bora descansar porque na manhã seguinte seria outra partida, desta vez, para Borda da Mata, nossa próxima parada mas essa, é uma outra história...

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