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Jane Goodall: ciência, compaixão e o legado de uma vida pela conservação

Coluna Papo Verde, por Dani Fumachi

Por Thomas

Na manhã de 1º de outubro de 2025, o mundo perdeu uma das maiores vozes da conservação ambiental. Jane Goodall, primatóloga britânica, morreu aos 91 anos, na Califórnia, de causas naturais, durante uma de suas incansáveis viagens de palestras. Sua partida encerra não apenas uma trajetória pessoal, mas um capítulo da história da ciência e da defesa ambiental.

Nascida em Londres, em 1934, Jane demonstrava desde cedo uma curiosidade sem limites pelo mundo natural. O amor por animais a levou, em 1960, ao coração da Tanzânia, onde, aos 26 anos e sem formação acadêmica formal, iniciou uma pesquisa pioneira no Parque Nacional de Gombe. Sob a mentoria do antropólogo Louis Leakey, lançou-se naquilo que se tornaria o estudo mais longo já realizado sobre chimpanzés selvagens.

Foi ali, entre florestas tropicais e noites silenciosas de observação, que Jane mudou para sempre a primatologia. Ao registrar que chimpanzés utilizavam ferramentas para extrair cupins, demonstrou que a exclusividade humana nesse campo era um mito. Revelou ainda sua estrutura social complexa, marcada por laços familiares fortes, estratégias políticas, solidariedade e até manifestações de dor diante da morte. Ao lhes dar nomes: David Greybeard, Flo e Fifi. Jane recusou a distância fria da ciência tradicional, mostrando que cada indivíduo tinha identidade e história próprias.

A repercussão foi imediata. Em pouco tempo, Jane Goodall deixou de ser uma jovem “sem credenciais” para se tornar referência mundial, doutorando-se em Etologia pela Universidade de Cambridge em 1966. A pesquisa iniciada em Gombe não parou mais: hoje, mais de 60 anos depois, é considerada o estudo contínuo mais longo sobre grandes primatas, com contribuições inestimáveis para a biologia, a psicologia e a própria filosofia sobre o lugar do ser humano no planeta.

Mas o trabalho de Jane não se restringiu à academia. Ao perceber que não bastava estudar os chimpanzés sem garantir a sobrevivência de seus habitats, fundou, em 1977, o Instituto Jane Goodall, hoje presente em mais de 30 países. A organização lidera projetos de conservação de florestas, reflorestamento de áreas degradadas e reintegração de primatas vítimas do tráfico ou da caça. Em 1991, deu início ao Roots & Shoots, um programa de ação juvenil que atualmente reúne milhares de grupos em mais de 65 países. O que começou como encontros escolares se transformou em uma das maiores redes globais de educação socioambiental.

O reconhecimento internacional veio em ondas. Jane foi nomeada Dama do Império Britânico pela rainha Elizabeth II, tornou-se Mensageira da Paz das Nações Unidas e recebeu, em 2002, a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo então presidente Barack Obama. Além dos prêmios, acumulou mais de 50 títulos honorários concedidos por universidades e centros de pesquisa em todo o mundo.

Sua contribuição também se estendeu à literatura. Escreveu mais de vinte livros, entre eles In the Shadow of Man (1971), que apresentou ao grande público os bastidores de Gombe, e Reason for Hope (1999), obra em que conciliou ciência, ética e espiritualidade para falar de meio ambiente. Seus escritos, traduzidos em dezenas de idiomas, ajudaram a popularizar a primatologia e tornaram acessível a urgência da conservação.

Mesmo com a idade avançada, Jane se recusava a descansar. Viajava até 300 dias por ano, levando sua mensagem a governos, escolas, empresas e comunidades. Falava de mudanças climáticas, desmatamento, poluição dos oceanos, mas também de esperança. Para ela, a transformação nascia das escolhas diárias, por menores que fossem, e sua frase mais repetida resumia essa visão: “Cada indivíduo faz diferença.”

Jane Goodall não foi apenas cientista: foi voz, consciência e testemunha de um tempo em que a humanidade precisou se reavaliar diante de sua relação com o planeta. Sua morte encerra uma vida inteira dedicada à escuta — dos chimpanzés, da floresta, da Terra. O legado que deixa é vasto: ciência com compaixão, ativismo com rigor, esperança com ação.

O vazio que sua ausência provoca é imenso, mas o caminho que abriu continuará servindo de guia para gerações que ainda acreditam em um futuro onde humanos e natureza possam coexistir com dignidade.

Jane Goodall: ciência, compaixão e o legado de uma vida pela conservação

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