Cada vez mais cedo: cresce número de jovens com câncer de mama no Brasil
Hábitos de vida, como dieta desequilibrada, tabagismo e uso descontrolado de hormônios, estão ligados ao aumento da doença em mulheres mais novas

Foto: Envato
O câncer de mama, tradicionalmente mais comum em mulheres acima dos 50 anos, tem apresentado crescimento preocupante entre mulheres com menos de 40. Pesquisas recentes indicam que os casos nesse grupo costumam ser diagnosticados em estágios mais avançados, o que dificulta o tratamento e compromete o prognóstico. Por isso, a prevenção e o diagnóstico precoce tornam-se ainda mais importantes.
Hoje, cerca de 23% dos casos de câncer de mama são registrados em mulheres com idade entre 40 e 49 anos. “Essa mudança no cenário está diretamente ligada aos hábitos de vida, com o aumento da obesidade, do sedentarismo e da predisposição genética como agentes potencialmente carcinogênicos”, explica a oncologista do Hospital São Marcelino Champagnat e do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), Aline Vieira.
Em resposta a esse cenário, o Ministério da Saúde anunciou recentemente que vai garantir o acesso à mamografia no SUS a mulheres entre 40 e 49 anos, mesmo que não apresentem sinais ou sintomas da doença, com o objetivo de antecipar o diagnóstico e tratamento.
Além disso, a mudança de comportamento deve se basear, principalmente, em manter os exames de rotina em dia. “A partir dos 40 anos de idade, todas as mulheres devem realizar a mamografia de rastreamento anual e prestar atenção no próprio corpo. Ao identificar algum nódulo ou alteração na mama, é preciso buscar avaliação médica especializada”, reforça Aline. Segundo ela, cuidados com a alimentação, a prática de atividade física e evitar, além do tabagismo, o uso indiscriminado de hormônios são primordiais para reduzir o risco de desenvolver a doença.
Tratamento multidisciplinar
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que, em 2025, serão diagnosticados mais de 73 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. A incidência é de 66,5 casos por 100 mil mulheres, número considerado alto. Em 2023, mais de 20 mil mortes foram registradas no país pela doença.
“A detecção precoce aumenta em 90% a chance de cura; já no diagnóstico tardio, essa possibilidade cai para menos de 30%, e o tratamento se torna mais agressivo. A mulher fica debilitada com o diagnóstico positivo, e o cuidado integral é fundamental”, frisa a oncologista.
Tratamento
O tratamento do câncer, muitas vezes, envolve quimioterapia e imunoterapia. Esses medicamentos são eficazes no combate às células tumorais, mas também podem afetar algumas células saudáveis do organismo, como as do coração e dos vasos sanguíneos. Isso pode causar inflamação, enfraquecimento do músculo cardíaco e alterações na pressão arterial ou nos batimentos. “É essencial que o tratamento dos cânceres diagnosticados tardiamente seja acompanhado por um cardiologista, porque alterações provocadas pelas terapias e não identificadas precocemente podem gerar falta de ar, inchaço, arritmias ou outros problemas cardiovasculares”, esclarece a cardio-oncologista do Hospital São Marcelino Champagnat, Ana Paula König.
Entre os tratamentos mais associados a efeitos cardíacos estão as antraciclinas (como a doxorrubicina), que podem causar perda de força no coração, especialmente em doses elevadas, a trastuzumabe, amplamente utilizada no tratamento do câncer de mama, e algumas imunoterapias, que podem provocar miocardite (inflamação do músculo cardíaco). A radioterapia torácica também pode endurecer artérias e alterar válvulas ou o próprio músculo cardíaco. “Nem todos pacientes apresentam complicações, mas o monitoramento contínuo é fundamental para reduzir riscos”, orienta a médica.
Antes do início do tratamento, é importante realizar uma avaliação cardiológica completa. A especialista explica que, durante a quimioterapia, exames como ecocardiograma, eletrocardiograma e laboratoriais devem ser repetidos para garantir que o coração esteja reagindo bem. “Modelos de risco permitem planejar um tratamento individualizado e prevenir complicações cardiológicas”, finaliza Ana Paula.